Nos anos 90 Telê Santana foi o símbolo de sucesso treinando um time de futebol, o São Paulo. Depois de ter treinado a possível melhor seleção de todos os tempos sem Pelé (já que com ele não conta), em 1982, ficou com a marca de azarado e perdedor. No São Paulo conseguiu recuperar sua carreira e ganhar absolutamente tudo.
O que fazia dentro do campo era só parte do trabalho que todos viam. Depois de ter treinado a seleção de estrelas de 1982, que pelas palavras dos próprios jogadores, tinham a sensação de “somos campeões” antes do jogo contra Itália, Telê no São Paulo cuidava e muito da vida dos jogadores. Falava pra um tirar o brinco, pro outro devolver o carro do ano que tinha comprado, pra mais um que ele não deveria ir ver a namorada mas sim ir descansar pois depois do jogo precisava era de repouso e por aí vai. Telê, sabia como ninguém como é a vida do jogador de futebol.
Quase trinta anos depois, muita coisa mudou. E não temos mais Telês pra cuidar da cabeça do jogador. E pra piorar, o assédio ao jogador ficou muito mais fácil. Claro, por causa da internet. É Instagram, é Facebook, é Twitter é absolutamente tudo. O jogador mal sabe se comunicar mas faz uso de tudo isso.
Como em nenhum outro meio, o futebol leva em pouco tempo do inferno ao céu alguém quem dificilmente teve estrutura e preparo para os holofotes e para o progresso financeiro quase instantâneo. Empresários muitas vezes dão tudo de conforto material logo no início da carreira do menino, dando-lhe até casa e apoio à sua família, mas basicamente dão pouco ou nenhum apoio psicológico. Mesmo porque também não têm a melhor estrutura e tem em seus clientes, os jogadores, a possível chance de lucros absurdos. E quanto menos tiver estrutura psicológica o menino, mais dependente do empresário estará.
Edmundo uma vez, após ter se envolvido no acidente de carro que matou gente, deu um depoimento emocionado dizendo que tinham formado o jogador, mas faltou formar o cidadão (o homem). O Brasil está cheio de talentos a serem lapidados, mas a estrutura mental e emocional da grande maioria é fraca. O futebol virou ponte para a fama, pra o status e para o dinheiro. Para a maioria das partes envolvidas. Muito mais que no passado. TV, empresário e anunciante ganham e muito com o jogador. O jogador por sua vez tem milhares de afazeres extra campo. Parece que o futebol virou apenas parte da carreira deste.
É preciso repensar o modo de formar um jogador. Senão, como o caso do craque do Flamengo, Vinícius Júnior de apenas 16 anos, serão milhares (aliás, já são). É preciso formar um homem antes de tudo, formar o caráter, formar o cidadão.
Já que se tem escolinha pra tudo, goleiro, jogador de linha, pra empresário, pra técnico e pra tudo o que se imagina, por que não criar uma escolinha para formação do homem ( jogador)?