No famoso conto dos irmãos Grimm, Cinderela, a princesa maltratada por sua madrasta má é resgatada por um charmoso príncipe de seu destino infeliz e vive feliz para sempre com seu amado.
A história da princesa alçada a uma vida de sonho é recontada até hoje para meninas pequenas, ainda que o contexto cultural feminino tenha mudado radicalmente. O que atrai tanto as mulheres no mito de Cinderela ?
Claro que ser resgatada das incertezas da vida e protegida por uma figura masculina ( ou feminina, nos dias atuais…) parece irresistível. A princesa é um arquétipo feminino imaculado. Bonito, bom e justo. No caso de Cinderela, sofre calada e resignada a seu destino, nobre em suas intenções e em seu espírito. Nada mais justo do que um príncipe bonito e forte a resgatá-la e tornar seu destino feliz.
Na década de 70, em plena era feminista, pós-queima de sutiãs, Collete Dowling, uma jornalista americana, expôs em seu best-seller “O complexo de cinderela”, a tendência das emancipadas mulheres dos anos 60 de continuarem esperando por um príncipe encantado, que as viesse resgatar, no caso, do destino de ter que ser responsáveis por suas vidas e mais especificamente de seu sustento.
Atualmente, no século 21, o dilema não mudou muito. Talvez as mulheres, hoje independentes, não queiram homens que lhes salvem, mas alguém ou algo que as resgate da dupla jornada de enfrentar o mundo hostil para ganhar seu sustento ou de suas crias e ainda chegarem em casa e serem as responsáveis pela harmonia e organização de seus lares.
Algo se perdeu no meio do caminho. As mulheres conquistaram seu espaço no mercado de trabalho, mas ainda são as principais responsáveis pela manutenção da ordem em seus lares e na educação de suas crianças. Aquelas sem filhos não são menos oprimidas. Louças, roupas por lavar, limpeza da casa, ainda são tarefas atribuídas essencialmente as mulheres e se não são capazes de prover alguma contribuição ao sustento de suas casas, tanto pior.
A cinderela do século 21 está imersa em tarefas domésticas e de caráter social e trabalhista. Dependendo de seu príncipe, estará condenada à ingrata tarefa de manter o lar e a responsabilidade de trazer ganhos financeiros de igual para igual com seu príncipe, bombardeada exaustivamente com imagens de mulheres lindas, competentes e gostosas, divulgadas pela grande mídia.
Triste fim de cinderela…