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Duas fotografias, duas histórias
Duas fotos que representam muito mais o fotógrafo do que a realidade
Às vezes a realidade que vemos satisfaz nossa vontade de fotografar. O cenário à frente de nossos olhos consegue demonstrar algo que toca nossa alma de fotógrafo suficientemente para o dedo disparar o obturador. Mas outras vezes é preciso criar essa realidade.

Como sempre falo aqui, a necessidade maior do fotógrafo é encontrar sua identidade. Em suas fotos mostrar sua alma, mais do que o cenário em si que está fotografando. Mostrar o que está dentro dele, através do cenário que se apresenta à sua frente. Esse é o maior e mais difícil desafio de um fotógrafo.

Aqui, veremos duas fotos que representam muito mais a realidade do fotógrafo do que a do cenário. Especificamente, dois retratos.

O primeiro uma foto de Diane Arbus. A foto em si mostra uma criança com uma granada na mão direita e uma cara claramente de um garoto perturbado. Nan, na verdade, tirou várias fotos do garoto, que entrevistado muitos anos depois disse que estava tão cheio de açúcar de doces que não parava um minuto (não me lembro as palavras exatas da entrevista). Curiosamente, de todas as fotos tiradas, ela escolheu essa, que o garoto fez essa expressão de louco e com uma granada de mentira na mão. O garoto estava brincando muito, mas não era perturbado. De todas as fotos, essa é a única que transparece uma personalidade perturbada. Mas era do garoto? Não. Era a alma da fotógrafa. Diane se matou. Um pouco de sua história aqui mesmo.

A segunda foto é de Willian Klein. Famosa foto de meninos que brincavam nas ruas. A foto não mostra a 

brincadeira dos mesmos, mas sim um deles apontando a arma (de brinquedo) para o fotógrafo enquanto o outro olha passivo e tranquilo para o colega apontando a arma. Klein, que tem trabalho de rua forte e intrusivo como podemos ver em suas fotos com grande angular, olhou para o garoto com a arma e disse: “act tough” (seja durão, tradução livre). O resultado se vê nessa foto. Um garoto agressivo mediante o desafio lançado pelo fotógrafo e um garoto passivo, observador e inerte. O que o fotógrafo diz da foto? que se via, se enxergava nos dois. Que era, ele, um pouco dos dois. Se identificava com os dois.

Como vemos, dois bons exemplos aonde o resultado mostra muito mais a alma do fotógrafo do que da realidade externa.