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Metodologia não é linguagem
Saiba diferenciar metodologia de linguagem pessoal, algo raro na fotografia
FOTO ACIMA DE ROBERT FRANK

Existe, em todo fotógrafo que busca uma identidade, uma necessidade de ter um DNA próprio em suas fotos. Nada é mais difícil no mundo da fotografia do que isso. Como já discutido aqui é grande a diferença entre a fotografia e outros meios de arte ou comunicação. É mais possível ter um traço característico para o desenho, um jeito de escrever e aí por diante. Ter uma fotografia única, que todos identificam como exclusiva ou a marca registrada de um fotógrafo específico é outra coisa totalmente diversa.

Nesse caminho para buscar uma identidade, alguns fotógrafos confundem esta com a metodologia pela qual passarão a mensagem. E nesse intermeio, recursos estéticos são empregados como “marca pessoal”. Nada pode estar mais errado ou conter tanta desinformação como tal recurso.

Algo que podemos citar é, por exemplo, o pobre recurso de entortar horizonte nas fotos. Fotografar festas de crianças, retratos e outros com o horizonte torto. Além de irritante, absolutamente ninguém pode conclamar tal tipo de fotografia como sua “identidade”. A não ser que você tenha e seja clone de mais milhões de fotógrafos.

Outro exemplo é a famosa vinheta (à esquerda): deixar os cantos da cena com uma luz mais escura, criando uma certa atenção maior no meio da foto. Não é preciso dizer que se faz isso com um pé nas costas e em menos de 1 minuto em um software de edição. Isso é uma linguagem de fotografia? Não. É um método usado pra criar uma atenção maior em parte da cena. dizer que isso é o DNA do fotógrafo é algo tão pobre em termos fotográficos que é de se perguntar se o fotógrafo tem qualquer tipo de formação ou estudo em fotografia.

É possível ter uma luz preferida, como contra luz, ou luz difusa, de dias nublados. Isso é um estilo de luz que o fotógrafo prefere para mostrar seu trabalho. Só.

Linguagem é algo um pouco mais complexo. É traduzir, através da metodologia qualquer escolhida sua visão, exclusiva, do mundo que deseja transmitir na fotografia.

Alguns exemplos:

Steve Mccurry– o fotógrafo tem uma linguagem muito clara para seus retratos por exemplo. Que claramente refletem em suas fotos, no resultado. Ele vê algo lúdico, romântico nos cenários e pessoas que fotografa. Seja na Índia aonde pobreza impera, ou em qualquer outro lugar. Seus retratos mostram pessoas desarmadas, muitas vezes de frente, e envolvidas por cores, de roupas e paredes coloridas. Seus retratados quase se entregam nas fotos, mostrando sua alma. Luz suave e olhos fixos na câmera. Sua visão do mundo é transparente em suas fotos. Sua linguagem é essa, a entrega de seus retratados ao fotógrafo. Sua metodologia para os retratos? Fotos de frente, feitas após conversas de modo profundo com os retratados.

Henri Cartier Bresson– Bresson também tinha uma visão bela do mundo, suas fotos entregam isso. Da

realidade escondida, quase surreal documentada por Bresson nas ruas até a felicidade de muitos que aparecem em suas fotos, até a demonstração do cotidiano de artistas, Bresson mostrou um mundo belo. Uma foto de Bresson é algo como um quadro. Apenas uma te deixa curioso. Te faz feliz. Essa é a linguagem de Bresson. A metodologia? Bresson tratava a fotografia como algo geométrico. A proporção áurea para ele era algo natural no seu modo de olhar as cenas. Quando tudo se encaixava geometricamente, ele estava satisfeito. Podia captar sua foto.

Comentários (2)
    • sidneyarvi 2015/07/09

      Nível avançado esse blog em mestre, aprendo mais aqui do que no curso haha ! Um estilo eu encontrei algo que me agrada é ter cores primarias em minhas fotos , agora essa tal da metodologia vou pastar ainda pra achar e mostrar isso na foto , aqui algumas que eu fiz https://www.flickr.com/photos/sidneyarvi

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