Você fotografa na rua, fotografa num parque, numa praça. Você faz um retrato de alguém. Você faz um retrato que vira algo muito maior. Um retrato épico. Como por exemplo a foto de Sharbat Gula, a menina afegã.
É para se concluir que tal foto se tornará conhecida, se tornará viral, especialmente nesses dias de internet. Consequentemente, mais cedo ou mais tarde, esta foto vai gerar faturamento. Através de uma revista, de uma venda direta ou através de downloads em um banco de imagens virtual. Tudo isso é muito bom para o fotógrafo, que além de ganhar dinheiro tem seu nome, agora, mais reconhecível nesse cada vez mais difícil mundo da fotografia. Aonde abundam imagens e fotógrafos. Ótimo. Você como fotógrafo atingiu um objetivo.
Tudo bem para o fotógrafo. A pergunta é: e para o retratado? Você já parou para pensar o que é justo para quem teve sua foto tirada? seria justo uma remuneração também significativa, contando que o fotógrafo ganhou reconhecimento e essa foto pode ser perpetuada através do tempo? Ou foi meramente competência do fotógrafo?
Tive um colega de classe, em aulas de história da fotografia e linguagem, que dizia: certos retratos tem co-autoria. À época não dei tanta importância para a declaração. Mas se você analisar bem, todos os grandes retratos da história tem co-autoria, os próprios retratados. Todos tem um caractere de especialidade rara, uma alma diferente, que deixa transparecer através da imagem. Claro, o grande fotógrafo faz jus a essa alma, sabendo retratá-la com, também, toda especialidade que ela transparece, mas que só fotógrafos com talento saberão como expor. No final, é uma parceria, fotógrafo e retratado.
Portanto, apesar da fama ser destinada ao fotógrafo, o retorno financeiro, na minha opinião, não pode ser exclusiva de quem tira a foto. Deve ser algo partilhado, em termos justos, já que sem retratado, absolutamente nada seria feito.