A reclamação que ouvimos de algumas pessoas quanto as investigações em curso no Brasil, mais especificamente da incursão da operação lava jato contra o sistema de corrupção instalado no país, é de que ela não atinge a todos políticos. Sim, estranhamente, os reclamantes não se sentem agredidos ou chocados com os desvios que alguns praticaram. Eles se sentem sim ofendidos porque deve ter mais gente praticando tais coisas e esses não estão sendo investigados.
Dessas algumas, várias acreditam que “todo mundo faz isso”, é comum. O injusto é perseguir só alguns. Trocando em miúdos, ou se persegue todos ou ninguém. A justiça é feita ao dar tratamento igual a todos corruptos. A perseguição a eles nem é assim essencial. Tanto faz. O que precisa é dar igualdade de tratamento a todos. Corrupção faz parte do jogo político.
Esse mesmo é o que vota na eleição em político notoriamente envolvido em escândalos. Se ele gosta do político ou acha que ele é bom, ele ter roubado não faz diferença.
É o mesmo que se estivesse lá também provavelmente faria o mesmo.
O mesmo, por outro lado, que quando é roubado na rua ou em casa acha um absurdo. Não é justo. O ladrão precisa devolver o dinheiro, o celular, a bolsa ou a carteira. Mas o político que rouba não rouba ele. Ele rouba é o outro. O rico, o adversário, ou o dinheiro que nem se sabe de onde é. A cegueira seletiva o impede de pensar e entender que o dinheiro desviado por um corrupto é o mesmo que ele usou anteriormente para pagar seus impostos. Ou, às vezes pior, ele sabe mesmo de tudo isso. Mas só lhe dói se a mão que lhe rouba não for uma mão com a qual simpatiza. A mesma citada no começo desse parágrafo que ele mal conhece e lhe tomou o que era tão obviamente seu.
O mesmo, pelo parágrafo acima, que se tornou ou sempre foi um hipócrita. Que seja. Mas uma coisa esse não tem direito de fazer: Se ele vota sabidamente em político mais que sabidamente corrupto, não pode em momento algum reclamar que é roubado na rua. Abdicou desse direito.
Falar que todos corruptos devem ser investigados é chover no molhado, é mostrar a mais óbvia realidade a um dia se alcançar. Mas só falar depois que um político de sua preferência foi pego com as calças na mão, é passar ridículo, é passar por parcial, tão parcial quanto os investigadores os quais se está questionando.