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Páscoa e as mulheres
Viva a mulher que come sem culpa (Por Chico Sá)

                                           Sem essa de culpa pela comilança, meninas. Páscoa é páscoa.

Seja ateu, agnóstico, evangélico, do candomblé ou de qualquer ramo religioso, amigo(a), largue dessa culpa pela comilança. Vale a celebração bonita. Nem carece de data.

Como é bonito uma mulher que come direito. Quem vive só de folha é camaleão, minha nega, e cameleão do mato mesmo, porque até o David Bowie manda ver nas panquecas.

Ah, nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida com sustança.

Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma, sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível.

Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um banquete nada platônico.

Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface. E haja saladinha sem gosto, e dá-lhe rúcula!

A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, um cozido, uma moqueca, uma feijoada completa, uma galinha à cabidela, massa, um chambaril, um sarapatel, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa, um tutu na decência, mocotó, um baião de dois, uma costela no bafo, abafa o caso!

Vixeeeeee! Que beleza a que a coisa toda se resume: comer, beber, viver.

E quando a Velha da Foice chegar, nunca seremos nós mesmos que a recebemos, já somos outros, como bem me avisou o grande Epicuro.