Essa semana eu estava dentro do ônibus em São Paulo, sentada e prestando atenção no meu celular. Quando uma mulher, de aparência não muito velha, um pouco acima do peso e de cabelo pretos com poucos alguns fios brancos, se aproximou e disse a seguinte frase: “você é gestante ou tem mais de 60 anos?” A pergunta, nitidamente, vem com um tom de sarcasmo, já que definitivamente eu não tenho cara de que tenha 30 anos, quem dirá 60. Educadamente, eu respondi que não e ela logo disse: “eu sim”, com o mesmo tom e mesma cara de sarcasmo.
Prontamente me levantei, expliquei pra ela, com educação, que ali não era preferencial (estes estavam ocupados por pessoas que não tinham necessidades e havia até mesmo um lugar vago, ao lado de um mendigo, que ocupava um dos lugares preferenciais) e respondi todo seu ódio com um “fique a vontade”. Sua expressão sarcástica foi tomada por uma expressão sem graça e sem um “obrigada”, ou até mesmo um pedido de desculpas ela se sentou.
Apesar da falta de educação dela, a mim não falta educação e não me importei em ceder o lugar a ela, já que, segundo ela, ela tem mais de 60 anos e escolheu o meu lugar pra sentar.
O motivo do meu texto ocorreu alguns minutos depois, quando uma senhora, essa sim nitidamente com mais de 60 anos, inclusive com cabelos brancos e rugas pelo rosto, entrou no ônibus e parou justamente na frente da mulher que acabara de me tirar do meu lugar. E sabe o que aconteceu? Nada. Ela olhou para a senhora e deu um sorriso amarelo.
Moral da história? Ela não estava preocupada se eu tinha mais de 60 anos, se eu estava grávida, se eu realmente tinha alguma necessidade ou se ali não era um assento preferencial (que são diferenciados por cinza e amarelo, este, para idosos, gestantes ou deficientes) . Ela só queria sentar, não importava onde. Não importava se alguém precisava mais do que ela, como ela precisava mais que eu.
No fim, minha consciência ficou tranquila, principalmente por devolver tanto ódio com educação e gentileza. Já ela, imagino que não pode dizer o mesmo.