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Nove anos sem Bezerra da Silva, o Embaixador dos Morros
“A favela é um problema social e essa verdade não sai no jornal”, cantou o compositor e sambista Bezerra da Silva, que partiu para além do morro há exatos nove anos.

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“A favela é um problema social e essa nverdade não sai no jornal”, cantou o compositor e sambista Bezerra da nSilva, que partiu para além do morro há exatos nove anos. Com a nrepercussão dos rolezinhos na última semana recordei da voz do malandro nBezerra sobre a situação da desigualdade social em nosso país, em que o nfato visto em um shopping de Itaquera torna-se evidente a segregação de nclasse marcada na população de renda baixa.

Conhecido como o Embaixador dos Morros, nBezerra da Silva dedicou sua carreira em letras que abordavam o ncotidiano do morador das favelas do Rio de Janeiro, mas que abrangeu a ntemática às outras comunidades pelo Brasil. Criticando a falta de nassistência social, condição urbana e opressão policial, o sambista nos npartidos altos elaborou em suas rimas as situações precárias das npolíticas públicas no morro, “Porque para o pobre, não tem outro njeito/Apenas só tem o direito/A um salário de fome e uma vida normal”.

A segregação social é destacada quando o nindivíduo da classe social baixa é submetido ao assédio moral e físico npor agentes policias ou conglomerados comerciais, privando o seu direiton de circular livremente pelos ambientes que escolher, apontados pelo nsenso comum de vândalos ou encrenqueiros, simplesmente como Bezerra ndestacava: “Só porque moro no morro?”.

Com músicas consagradas na discografia nnacional, como “Eu Sou Favela”, “Vítimas da Sociedade”, “Justiça Social”n e “As Favelas Que Não Exaltei”, Bezerra descreveu a falta de nconsideração dos órgãos públicos ao povo do morro, mas sempre havia em nseu desejo a utopia de que suas canções pudessem refletir o ncomportamento da sociedade e a tentativa de conseguir mais igualdade e nrespeitos para seus conterrâneos do morro. E por que não sonhar? Todo nsambista faz de sua música a voz de toda a comunidade, particularmente nquando o mesmo faz de sua prática a crítica social em apontar as nnecessidades ainda muito enraizadas de seu lar.

COTIDIANO PARTICULAR DO MORRO

Bezerra da Silva também descrevia em tom nromantizado o cotidiano particular do morro. “Lá no morro”, como sempre niniciava suas crônicas musicais destacava a vida dos malandros em ação naté alguém “gritar pega ladrão”, os caguetas no pé do ouvido da polícia napontando seus dedos duros para os que não agregavam valor à lei, das nmulheres com seus decotes seduzindo os “bons do morro”, da sogra difíciln de aturar, dos diversos diálogos hilários que ludibriavam a polícia e, nprincipalmente, a maconha que às escondidas só se apertava para fumar nmais tarde.

Canções que marcaram sua carreira e ncontinuam a frequentar nossa mente, Bezerra deixou obras consagradas e ninfluências para as novas gerações de vários gêneros da música nacional,n como Marcelo D2, Seu Jorge, Leandro Sapucahy, Emicida e Criolo.

Nestes nove anos sem a voz do malandro don morro, Bezerra reencarna no inconsciente da rapaziada que reivindica umn lugar para compartilhar seu estilo e convivência no lugar que lhe for ncômodo, sem caminhar com o receio de ser abordado com a borracha na ncarne. Em tempos de violência e proibição de rolezinhos as canções do nmestre Bezerra se fazem atuais, de um “líder permanente” do povo do nmorro: “Meu bom doutor, o morro é pobre e a pobreza não é vista com nfranqueza”. A caminho da Copa do Mundo, o olhar de nossa população nprecisa fitar o tal “padrão FIFA” dedicado ao evento, focando na palavran anunciada pelo embaixador Bezerra da Silva: “Se vocês estão a fim de nprender o ladrão, podem voltar pelo mesmo caminho, o ladrão está nescondido lá embaixo atrás da gravata e do colarinho”.

Além da criatividade na composição das nletras de suas canções, Bezerra da Silva também inovou com as capas de nseus discos. A seguir algumas das capas mais marcantes de sua carreira:

Polêmico álbum de 1990n

Polêmico álbum de 1990

Álbum de 1994, que estourou nas rádios com a canção "Overdose de Cocada" n

Álbum de 1994, que estourou nas rádios com a canção “Overdose de Cocada”

Álbum de 1985, com a emblemática capa tendo Bezerra da Silva segurando um revólvern

Álbum de 1985, com a emblemática capa tendo Bezerra da Silva segurando um revólver

Álbum de 1992, considerado o mais político do sambistan

Álbum de 1992, considerado o mais político do sambista

Jorge Filholini