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O atual declínio do império americano em Blue Jasmine, de Woody Allen
Depois de uma longa turnê pela Europa com filmes marcantes, Woody Allen retorna para os EUA e constrói um drama sobre o caráter dos estadunidenses pós-crise econômica. O comportamento e o desencantamento material são motes para a construção da mudança, tendo Jasmine como modelo.

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“Ela não parava de tagarelar sobre a sua nvida”, diz uma senhora para o membro de sua família sobre Jasmine que nestava sentada a seu lado durante o voo com destino a São Francisco. nEsta cena no início do recente filme escrito e dirigido por Woody Allen,n “Blue Jasmine”, apresenta uma personagem iludida pela a vida que estavan habituada, da ascensão e queda financeira devido a crise econômica nocorrida em 2008 nos Estados Unidos. Jasmine acaba perdendo tudo e parten rumo ao abrigo da irmã adotiva, para outra rotina completamente ndiferente da que desfrutava, portanto, tagarelar sobre sua antiga vida én o que restou para Jasmine.

Depois de uma longa turnê pela Europa comn filmes marcantes – sempre terei como predileto o britânico “Match nPoint” -, Woody Allen retorna para os EUA e constrói um drama sobre ncaráter dos estadunidenses pós-crise econômica. O comportamento e o ndesencantamento material são motes para a construção da mudança, tendo nJasmine – ou Janeth – como modelo. Dondoca acostumada com extravagância en sempre bajulada pelo ex-marido com joias e apartamentos, contudo nhabituar-se a nova vida e forçadamente em uma classe social baixa faz dan personagem uma busca interior para compreender sua verdadeira situação nna sociedade, mesmo que a busca seja neurótica e depressiva.

“Quando Jasmine não quer saber ela olha npara o outro lado”, explica sua irmã adotiva Ginger – interpretada pela ntambém indicada ao Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, Sallyn Hawkins -, sobre o comportamento e a omissão de evitar culpas à Jasminen sobre o envolvimento fraudulento do marido no fisco americano. nAssistimos, por meio de flashbacks, as duas fases de Jasmine, o nglamoroso convívio com jantares caros e grifes a exibir como Chanel e nDior, e a Jasmine tentando sobreviver após perder tudo, arranjando nemprego como recepcionista de um dentista cafajeste e iniciando seu nconhecimento tardio em informática, além de almejar ser decoradora de ninteriores.

Os polos opostos destacam a personalidaden de Jasmine, seu universo de abundância financeira e sua condição atual,n faz com que não fiquemos com raiva de sua atitude, mas com pena por nencarar tal ostentação de modo ilusório, mesmo sabendo que nunca mais nvoltará ao glamour financeiro, Jasmine insiste em criar situações no ninterior de seu mundo que a faz retornar à elegância de uma vida marcadan pela riqueza, ocasionando na difícil posição de admitir sua atual fase.

Cate Blanchett está extraordinária no npapel de Jasmine, vencedora do Globo de Ouro como melhor atriz e nindicada ao Oscar na mesma categoria, Cate apresenta uma personagem ncomplexa, afetada psicologicamente pela a situação de queda repentina den vida. Neurótica, Jasmine diversas vezes dialoga com o passado pelas nruas, é abordada falando sozinha e Cate Blanchett interpreta esta nsituação de modo fantástico, como visto nos momentos finais do filme nsentada no ponto de ônibus, em um sensacional monólogo, Jasmine engana an si ao alegar estar a espera de seu namorado, sendo que na verdade a nilusão de tentar retomar os momentos de sua antiga vida luxuosa é fadadon à loucura.

Atuação extraordinária de Cate Blanchett (Foto: The Guardian)n

Atuação extraordinária de Cate Blanchett (Foto: The Guardian)

Em “Blue Jasmine” Woody Allen não nos napresenta o seu melhor filme, mas constrói a melhor personagem de sua nrecente fase, Jasmine é o reflexo do americano culturalmente introduzidon ao materialismo e durante a crise desmoronou-se na falência nexistencial. Personagem depressiva, alcoólatra e em hipótese alguma ndesiste de seus modos anteriores, em Jasmine o mestre Allen analisa o nprocesso pessimista dos americanos, em uma geração que presenciou a nqueda de seu império.

Como tudo que ostentou foi por meio do ndinheiro dos outros, Jasmine finge não ter conhecimento da situação até nser afetada pelo sentimento e o universo de ilusão construído pela npersonagem entra na bancarrota. Blue Jasmine peca em alguns momentos, nporém nos presenteia, mesmo que tardio, com um pequeno estudo do cidadãon estadunidense pós-crise financeira, apontando a mudança do caráter e non desencantamento desta atual geração.

Jasmine é o reflexo do americano pós-crise financeira de 2008 (Foto: Divulgação)n

Jasmine é o reflexo do americano pós-crise financeira de 2008 (Foto: Divulgação)

Blue Jasmine

Ano: 2013

Direção: Woody Allen

Roteiro: Woody Allen

Elenco: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Peter Sarsgaard, Sally Hawkins.

Jorge Filholini