Quem ainda considera histórias em quadrinhos coisa de criança vai se surpreender com a reflexão existencialista contada a partir de um mundo onde todos são palhaços tristes. O sorriso pintado no rosto e o nariz vermelho não conseguem omitir a tristeza e desilusão pela qual as pessoas passam. Os quadrinhos em preto e branco assinados por Gabriel Mesquita ganham cor nessa transposição para a grande tela, com adaptação para roteiro, direção e montagem por Rafael Lobo. Os dois já haviam trabalhado juntos no curta-metragem Confinado (2010).
O filme Palhaços Tristes (2013) concorreu ao 18º Troféu Câmara Legislativa e fez parte da programação da Mostra Brasília. A cenografia do filme merece atenção. As linhas retas do papel de parede e tapete do quarto dão sensação de infinito, sem um começo e fim visíveis e é o que ocorre com a narrativa não-linear da película. E a montagem sugere que nada do que passou aconteceu quando o fim retoma o começo.
Para ambientar o cenário noturno e sombrio, a película faz uso de música original, a trilha sonora conta com a ópera Piange Pagliacci e começou a ser feita antes mesmo de começarem as filmagens. A fotografia se utiliza de pouco movimento de câmera e consegue fazer com que as cenas se aproximem da essência dos quadrinhos a partir das escolhas de enquadramento. Outro ponto positivo é a composição dos figurinos, que carregam referências sutis ao mundo circense sem apelar para o clichê, o denaté mesmo o nariz vermelho traduz uma personalidade própria.
A figura do palhaço alegre vive no imaginário coletivo, mas a maquiagem com um sorriso que escapadas beiradas da boca em detrimento da lágrima pintada abaixo do olho traz uma dicotomia. Mais uma vez o diretor segue o tom questionador ao roteirizar a metáfora do palhaço triste para falar da hipocrisia e as máscaras usadas no relacionamento entre as pessoas. E embora essa temática do palhaço ao inverso não seja inédita, a abordagem atual e urbana aproxima a questão da realidade cotidiana.