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O Magnífico
Crítica do filme de espionagem pastelão dos anos 70

Com referências ao gênero pastelão, O Magnífico (1973) pode muito bem ser visto como uma paródia dos filmes de espionagem da década de 70, que estavam no auge por conta da Guerra Fria. Essa produção franco-italiana mescla o cenário úmido e taciturno “urbano” com o sensual e exótico de Acapulco. E o contraste não para aí. O enredo se duplica ao contar simultaneamente a história de Bob Saint-Clair, um super espião irresistível, e o escritor de romances de espionagem, François Merlin — ambos interpretados por Jean-Paul Belmondo (Acossado, 1960).

O espião é o magnífico alter ego do autor. Merlin escreve o 43º livro e sua única arma para extravasar e revidar os infortúnios do cotidiano é a máquina de escrever. Nela ele bate os dedos e domina a história onde todos os que ama e odeia entram e saem. O vilão, Coroneu Karpoff, é o editor que rejeita o adiantamento, a bela espiã e par romântico, Tatiana, é a vizinha socióloga por quem está interessado — interpretada por Jaqueline Bisset –, para citar alguns.

Em sua maioria, as transições de cena ocorrem pela interferência sutil de pessoas enquanto ele escreve. A empregada aspirando a areia na praia mexicana no meio de um tiroteio e depois abrindo a porta do banheiro para continuar aspirando a casa do autor é a primeira transição entre o fictício e a realidade.

O enredo deixa de ser linear à medida que o escritor vai reescrevendo a história de Bob Saint-Clair. Isso também afeta os outros personagens do livro, que passam por mudanças de percurso e personalidade e se esbarram com as mudanças vividas na realidade do autor. A maneira como o enredo é desenvolvido e a progressão dos acontecimentos conferem um dinamismo ao enredo, mas sem surpresas efetivas no desfexo.