Zapeando pela net, me deparei com uma reportagem sobre três mulheres que cuidam de bonecas/bonecos como se fossem seus filhos. Tratam-se de bonecos extremamente realistas, podendo representar de bebês recém nascidos a crianças mais velhas e chegam a custar até 5 mil reais. São os chamados “reborn”.
Apesar do apelo infantil, essa é uma “brincadeira” de adultos. Além de ser uma atividade cara, mulheres que compraram ( ou “adotaram”, na fala de uma das entrevistadas na matéria ) reborns cuidam desses “filhos” como se fossem reais. Ou, em última análise, para elas eles realmente são.
É claro que quem se depara com um universo desse questiona o que leva uma pessoa a gastar seu dinheiro, tempo e energia para cuidar de…bonecos ? Na reportagem, do portal UOL, essas mulheres dão algumas repostas. Cristina, de 43 anos é uma “mãe real”, ou seja, biológica, de três filhos, com idades entre 16 e 29 anos. Hoje ela tem 30 bebês reborn. O fato de Cristina ser mãe de três já fez cair por terra o meu primeiro palpite de que seria óbvia a preferência de algumas mulheres por “filhos” que não falam, não choram, não sujam fraldas, não fazem birra e nem tiram o seu sono…afinal são seres inanimados. Cristina conta que já gastou mais de R$ 1.000 de uma vez só vez com roupas de personagens da Disney e no total, já gastou mais de R$ 40 mil. Já deixou de comprar coisas para ela mesma para dar lugar a eles e não se arrepende. Nesse caso, desconfio que o dinheiro que ela gastou foi pra ela mesma e não para “eles”, já que “eles” não existem em separado dela…mas esse é mais um palpite !
Fernanda, de 41 anos, aparece em uma foto da festa de aniversário de “Maria Fernanda”, uma boneca que se assemelha a uma garota de 8 ou 9 anos. “Sempre quis ter um filho, tive três abortos e foram experiências ruins, mas não é por conta disso que tenho reborn. Sempre gostei de bonecas e nunca parei de brincar, mas é diferente da infância. Elas são semelhantes a um bebê real. No total, tenho 13, são as minhas meninas.” De uma forma singela, ela parece sustentar essa visão idealizada e infantil da maternidade ( no caso não realizada ). Entrar em uma fila de adoção e lidar com a burocracia, as leis, as opções, prazeres e frustrações de cuidar de um ser humano de carne e osso não seria tão pueril.
Sheila, de 35 anos, vai direto ao ponto : “Elas não choram, não me julgam, estão sempre sorrindo. Não tem como não se alegrar. Lembra a infância, é como se eu tivesse a inocência de uma criança novamente. Também tem o laço materno, sinto que estou protegendo-as. Brinquei de boneca até os 14 anos, aos 17, fui mãe e depois tive medo de engravidar novamente. Agora, sou uma criança crescida. As pessoas discriminam muito, acham que é um dinheiro que não deveria ser gasto assim. Dizem que é coisa de gente doida, mas não me importo. É uma arte e tem um valor sentimental.”
A fantasia e o prazer de uma pessoa não pode ser medida ou valorada a não ser por ela mesma. Pode-se sustentar que homens também gastam pequenas fortunas com hobbies como carros, aeromodelismo ou coisas do gênero.Nesse caso, como envolve o cuidar e o sentimento de maternidade é claro que causa um grande estranhamento. A primeira coisa que pensamos é que esse dinheiro poderia ser gasto em uma viagem, ou ajudando uma criança real, quem sabe em algum orfanato. De qualquer forma cada pessoa vai julgar segundo seus próprios valores. Embora a maioria dos donos de “reborns” seja apenas de colecionadores, há casos reais de mulheres que sofreram abortos ou perderam seus recém nascidos e que tornam-se realmente emocionalmente apegadas aos “reborns”.
Do outro, entre os artistas que manufaturam essas bonecas e bonecos há uma grande habilidade envolvida, já que quanto mais realista o produto final, mais valioso, podendo chegar a milhares de dólares.