Em primeiro lugar, eu não gosto muito do Leonardo di Caprio… aquela cara de mauricinho não me convence muito e também nunca achei ele um grande ator. No lobo de Wall Street eu me rendi à sua atuação. Acho que ele está muito bem no papel do corretor de investimentos ganancioso e sem escrúpulos, bem americano ( com o perdão aos compatriotas ), um papel que eu achei que lhe caiu como uma luva.
Em segundo lugar, o tema também não me atrairia, não fosse uma cópia dessas piratas que “veio parar no meu dvd player” ( eu sei, é uma contravenção ). A cópia estava boa e não fosse a legenda do tipo google tradutor eu teria acompanhado melhor os esquemas de fraudes narrados em inglês rápido. Mas o que me encantou no filme foi que ele a certa altura gera até uma compaixão, uma pena dessa espécie de seres humanos que fazem qualquer coisa pelo dinheiro.
Scorcese conseguiu levar ao extremo do patético e do ridículo os trabalhadores do mercado financeiro, retratando-os, em certos momentos como animais incontroláveis, grunhindo, fazendo sexo em público e cheirando cocaína sem parar, além de gritar como loucos psicoticos, de olhos arregalados na busca de suas metas e comissões.
O personagem de Leonardo di Caprio se chama Jordan Belfort e é real. O filme se baseia em seu livro autobiográfico. Muitas das pessoas que foram ludibriadas por ele, que perderam dinheiro com suas fraudes, se sentiram ofendidas com o filme, achando que Scorcese o glamoriza e faz dele meio que um herói. Eu, particularmente, acho que o filme faz o oposto. Ele mostra quão patética e ilusória é a mente de um ser humano guiada pela ganância material e pela busca de dinheiro. Você verá pelo filme homens rastejando drogados, embora tenham plaquets de milhares de dólares no bolso, iates e mansões.
Muito se tem falado sobre o mercado financeiro, após a crise desencadeada pelos EUA e a quebra de grandes bancos de investimentos a partir de 2008. Trabalho Interno é um documentário que trata muito bem desse tema e tem pessoas dando seus testemunhos sobre o que Scorcese veio a recriar depois com seu filme; um tipo de gente regada a cocaína, ganância e muitas, muitas fraudes, para lucrar milhões.
É impossível também não refletir sobre a história recente do país, com seus mensalões, dólares na cueca e estórias de grandes festas regadas a prostituição e sabe-se lá o que mais na capital política do país. Impossível não lembrar também do lucro absurdo das nossas instituições financeiras.
O que uma coisa tem a ver com a outra ? Pessoas… estórias são feitas de pessoas e o que o filme nos mostra é a degradação de pessoas, a degradação de sociedades, do “ser humano”, esse sujeito abstrato que somos todos nós. Ele te faz pensar, quem afinal é pobre e quem afinal é rico, de verdade.