São Paulo fez aniversário. 460 anos. Por isso pude ver Paulinho da Viola, que eu amo, ao vivo na praça da República, com um monte de gente de todo canto da cidade, com aquele sentimento de democracia, cidadania, celebração. Caminhamos pelo centro e em cada lugar algo pra se fazer…até a passeata contra copa invadir nossos planos, com black blocks quebrando uma agência bancária próximo de nós e milhares de viaturas da polícia mililtar invadirem as imediações atirando balas de efeito moral. Fomos embora entre lixo incendiado e paulistanos solicitos nos avisando sobre o melhor caminho.
São Paulo é assim… amor e ódio, muitas cidades em uma só cidade…um lugar um pouco esquizofrênico…que inclui e exclui ao mesmo tempo, que te faz querer ficar e ir embora em poucos minutos.
Eu nasci e cresci em São Paulo, tenho um sentimento de amor pela cidade, mais porque ela é o cenário da minha estória de vida e menos pelo que ela é de fato. Acho triste não poder visitar a casa em que cresci porque uma incorporadora comprou quase toda a pequena rua em que morávamos para erguer prédios imensos. Assim como lamento não poder ver a primeira escola que frequentei, as árvores frondosas da av. Cidade Jardim, da av. Santo Amaro as avenidas largas sem os milhares de túneis. Quem mora em São Paulo convive com essa destruição permanente da estória…da estória da cidade e com isso da própria estória. Nada permanece como é… Casas lindas, arquiteturas primorosas de épocas específicas são demolidas com a rapidez que se mata um pernilongo…em nome do progresso, OK.
Acontece que esse progresso é todo torto. Estamos sempre presos no trânsito, no túnel, correndo pra conseguir pagar os custos de tudo o que ela nos oferece. Estamos sempre exaustos demais pra aproveitar os milhares de programas culturais a nossa disposição…estamos sempre circunscritos ao nosso bairro, sitiados em nosso pequeno espaço pra conseguir viver na cidade. Não sabemos nada do vizinho, que dirá da imensa população dessa cidade enorme. Somos uma cidade cheia de mini cidades com interesses e necessidades tão diversas quanto água e vinho. Daí os rolezinhos, arrastões em restaurantes, os bairros inteiras debaixo d’água nas chuvas de verão,convivendo na mesma cidade do maior tráfego de helicópteros.
Tudo isso já foi dito…tudo permanece igual. É o caos da megalópole, o preço que se paga nesta terra de oportunidades. Quem está fora, quer entrar, quem está dentro quer sair…mas no fim,sempre falta tempo !
Parabéns São Paulo !
* Vista aérea da Avenida Paulista (Foto: Agliberto Lima / AGÊNCIA ESTADO)