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Algumas revelações do coração
Já pensou achar uma câmera fotográfica perdida por ai e querer desesperadamente saber o conteúdo daquelas fotos? Tá eu sei que não é novidade, afinal, já vimos algumas vezes nos noticiários que já conseguiram achar máquinas perdidas até dentro do mar, quando se é revelado o conteúdo surpreende-se. Mas confesso a vocês que a sensação e de ter ganho na loteria (apesar de não ter ganhado nenhuma vez)

Dias destes, separando algumas caixas em cima do guarda-roupa descobri uma antiga máquina a quem pertenceu ao meu avô, uma Kodak Instamatic Magic 133 ainda com um filme acoplado. Não tive coragem de abrir a tampa, no marcador atrás dela marcava 11 fotos de um filme de 24 poses.

Tamanha foi a minha curiosidade em revelar logo aquelas fotos, quem sabe não tinha nada demais dentro daquele rolo de filmes antigos, talvez com o tempo tenham até estragados, se os revelasse talvez nada fosse, mas por estar bem embalado dentro da caixa, me fez acender um fio de esperança de que era possível ao menos tentar. Então a separei de lado, perto de alguns velhos livros que estava para doação.

Comecei então uma batalha à procura de algum lugar neste imenso universo que a revelasse de alguma forma o conteúdo daquelas fotos, mas nada. Quase ninguém utiliza filmes de rolos hoje em dia, é tudo cartões de memórias que podem armazenar centenas de milhares de fotos e impressas em qualquer impressora. Mas minhas esperanças já estavam acabando quando no aniversário de meu sobrinho, o fotógrafo que minha irmã contratou contei meu caso, ele então passou-me o telefone de um amigo seu que faz este tipo de trabalho em seu estúdio, não tive dúvidas, liguei e marquei naquela semana mesmo uma visita.

Assim o fiz, sábado passado no horário marcado levei a câmera até seu estúdio e acompanhei cada passo na revelação daquelas fotografias. A primeira foto mostra um velho campo aqui da cidade de onde moro ainda era apenas matagal e ali estava a casinha do meu avô, meu Deus quanta coisa mudou hoje em dia, há incontáveis casas e sobrados além de agora estar do fundo do quintal alguns pares de prédios.

A segunda foto acredite: Meus pais comigo e minha primeira irmã, meu pai de terno e gravata, minha mãe de cabelos compridos e eu de terno com gravatinha borboleta, lembrei-me aquele dia com perfeição, estávamos de saída num domingo para a igreja, meu pai de tão feliz que estava de compartilhar aqueles momentos conosco uma vez que trabalhava em três turnos numa fábrica aqui da cidade, pediu então que minha tia tirasse aquela fotografia. Provavelmente não chegaram a terminar o rolo de filmes desde aquela dia. Só agora vinte e poucos anos depois consegui enxergar um pouquinho do passado, meus avós já não estão mais entre a gente, já me casei, tenho um filho e moro em um daqueles prédios atrás de onde meus avós moravam.

Consegui observar naquelas fotos que talvez de todas as dificuldades que passávamos “antigamente” não são tão diferentes das de hoje, conseguimos, batalhamos e temos nosso espaço neste mundo. Agora pude ver ainda assim o sorriso permanente dos meus avós. Matei a saudade da minha velha bicicleta, e do tanque onde minha mãe lavava nossas fraldas ainda de pano. Dei risadas das minhas calças de boca de sino, da camisa com colarinhos que cobriam os ombros e meu Deus como era magro. Agora minha tia ainda jovem sentada no braço do sofá e fumando… ao fundo a velha vitrola e o vinil do antigo Ritchie que cantava “menina veneno”, na cozinha de meus avós tinha um “cofre” de madeira trancado com chave onde meu avô guardava os bilhetes de loteria, às vezes ele arriscava a vender e alguns velhos jornais e cadernetas, por nada que é mais sagrado nesse mundo se era permitido que se abrisse aquele cofre .

Que guerreira foi minha mãe. Terminando esta crônica quero e desejo muito passar ai agora e te dar um abraço, você é merecedora sim de toda minha admiração. Meu Pai? Obrigado pela educação, pelo lar, pelo mantimento e educação, hoje, veja o senhor mesmo tenho minha própria casa, meus carros, filho e esposa, são obras de Deus eu creio, mas nada disso seria possível se não tivesse eu um bom alicerce.

A sétima e última foto revelada, pois as demais não conseguimos, eu quis colocar em um quadro, pois se trata dos meus avós. Ali no quintal de chão feito com vermelhão com ele quase fechando os olhos por causa do sol e minha avó linda como sempre, um rosto angelical uma foto ímpar com certeza, Obrigado seu Arnaldo e dona Jorgina.

Agora, você já parou para pensar dentro dessa máquina chamado Coração que você tem quantas e quantas recordações tem ai dentro? Já pensou em revelar seu conteúdo as novas gerações? Vamos vai, ao menos tente você vai se surpreender, revele pelo menos a última foto que seja seu momento mais incrível. Tente antes que perca com o tempo.

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