Quem diria que o recanto de uma chácara alugada ao meio do bosque de uma cidade no interior de São Paulo iria me fazer tão bem? Procurei esta chácara intencionalmente para me desintoxicar da poluição da capital, das zonzeiras buzinas das motocicletas dos sambas dos ônibus que saem das faixas atrapalhando todo o trânsito dos reclames das filas gigantescas enfim, procurava paz, sossego e liberdade.
Ao anunciar o meu retiro, muitos me criticaram por ir à contramão do povo, ao invés de um feriado prolongado regado com água de coco, cerveja e até mesmo de batucadas ensurdecedoras dos carros de som em alguma praia, eu fui com destino certeiro ao interior paulistano. O celular a certa altura do caminho ficou sem sinal, a televisão quando funcionava era preto e branco e apenas dois canais.
O silêncio é ensurdecedor para alguns, para mim foi uma rica experiência: Trocar o samba dos ônibus por ventos de direção correta, o buzinar das motocicletas que cortam o transito pelas declamações dos pardais que discutem depois do almoço, olha que a discussão deles deu um sono, foi o que fiz dormi feito pedra, sonhei como nunca.
Na cachoeira tímida foi possível escutar a correnteza das águas, as cores do mundo ficaram mais vivas eu até então não tinha reparado no azul anil da choupana alugada. Literalmente jantamos fora de casa, comida caseira e eu na mais pura simplicidade pés descalços no chão e ela linda com uma flor de lis presa aos cabelos com seu vestido amarelo florido.
Você aguça todos os seus sentidos e acaba vivendo cada momento, parece que você está em outro mundo literalmente. Ao acordar cedo na varanda ter a sensação de liberdade, pegar a máquina fotográfica e registrar o nascer do sol que parece um pastel de cores, o tico-tico e o canário do reino completava o dia. Uma fogueira à noite não para aquecer, mas para um encontro onde colocamos para fora tudo o que nos prende nos segura nos intimida, abrase! Deixamos a noite entrar pelas janelas que repousaram abertas observamos tamanha lua lá fora até as nuvens descansaram, deixaram os céus abertos para que víssemos além daquilo que acostumamos ver.
Um retiro para fora do nosso ninho às vezes é bom, refletimos, amadurecemos e enxergamos aquele lugar de uma forma diferente e ao retornarmos que sejamos prudentes em trazer somente boas histórias, experiência e a magia daquilo que encontramos. Devemos sim, dividir as coisas boas com aqueles que merecem e nos cercam de alguma forma, viver é a coisa mais maravilhosa que existe já a maioria das pessoas apenas existe em algum tempo ou um lugar com uma vida toda pela frente. Não precisamos de muitas coisas para viver, apenas alguém que divida com você sempre o lado bom da vida.