Ontem estava no Poupa Tempo aqui da cidade e conheci um senhor muito simpático, o seu Silas 83 anos. Usava um velho chapéu panamá, camisa gola alta e umas correntes a perder a contagem. Em dado momento, sentimos o cheiro de café da loja à frente e logo ele disparou:
– Me acompanha num café?
– Claro seu Silas!
Puxa vida meu jovem, disse ele: Lembro-me da minha senhora que Deus a tenha! Passava-me o café no bule com um daqueles coadores de pano, sabe? Eu ainda tenho um. Você sabe do que eu estou falando né?
Pois bem, aquele cheiro de café fresco coado na hora pela minha senhora, ela punha o café na xícara larga por que meu nariz é um tanto grande sabe? Aquelas “xicrinhas” não servem pra mim não é muito pequena, e então ela debruçava sobre a mesa com as duas mãos abaixo do queixo e sem dizer uma palavra me acompanhava enquanto alternava entre o folhear do jornal e os goles de café.
A gente não dizia uma palavra, eu até fingia que ela não estava lá! Às vezes eu “rateava” com ela: “Ô véia! Tira esse zóio de lombrigas de cima mim, me deixa ler o jornal quieto!” (gargalhada).
Tempo “bão” esse sabe, hoje em dia vejo que minhas filhas não acompanharam esse modo da gente não, outro dia uma delas (filha) a mais velha, me contou que passou naquelas lojas aqui do centro e comprou uma panela de pressão elétrica, disse que basta colocar na tomada e apertar alguns botões lá que o feijão fica pronto num instante. Mas eu ainda insisti:
– Minha filha, mas para fazer o feijão quem esquenta a água? Continua precisando do velho e bom fogão do mesmo jeito!
– Bobagem pai! Hoje a gente esquenta água mais rápido no micro-ondas! Eu saio para trabalhar o Silvio (genro) chega mais cedo e ele mesmo faz a janta, coloca todos os ingredientes e não tem segredos.
Que modernidade é essa que infestou o mundo né jovem? A mulher hoje em dia “tá” igual ao homem? Sai para trabalhar e o dito quem tem que varrer a casa, tirar a poeira dos móveis e até fazer compra, isto além de trabalhar fora! E ai do “caboclo” se ele deixar quebrar alguma coisa ou esquecer-se de fazer uma tarefa.
Você que é jovem meu filho, é casado? Aprecie o bom café da sua mulher, sinta o sabor do feijão, perceba os temperos que ela coloca na comida, dão risadas juntos, façam palavras cruzadas, pois são esses pequenos momentos que a gente carrega para vida toda. Se for contra você só carrega culpa e se não for até o dia da sua morte, uma hora o peso da culpa cai de uma vez só sobre a gente.
Mas, me desculpe meu filho esse cheiro de café me trouxe essa lembrança de muito tempo atrás, e hoje eu não sei ficar quieto eu falo mesmo. A gente chega numa certa idade e percebe que as pessoas dão mais valor ao celular do que uma boa conversa, não é?