Era começo de noite, apanhou uma garrafa de vinho cabernet e caminhou até a velha poltrona virada para a janela, ali podia contemplar toda a cidade enquanto o sol se punha, apanhou a caneta do bolso, ao lado da poltrona guardava um pote de vidro grande cheio de rolhas, criara o hábito de registrar no cantinho delas momentos especiais da vida, como se quisesse eternizá-los, antes de escrever resolveu pegar aleatoriamente alguma daquelas rolhas do pote e lendo: “jantar de amigos da faculdade”, “2ª promoção na empresa”, “férias”, “aniversário de casamento nº21” assim por diante.
Para quem estava cabisbaixo e reclamão da vida, olhando aquele pote repleto de excelentes momentos registrados, uma chama de aspecto gelado bateu dentro do peito, como se reativasse um usina nuclear, um momento de forte energia, não! Não veio do vinho, pois ainda o copo estava vazio, nem pense nisso! Foi saudade mesmo, da época dos grandes encontros, dos momentos a dois, as vezes as sós, saudades de momentos eternizados.
Sempre soube que não se deve levar a sério o passado, mas sim viver de forma majestosa o presente. A vida dá a oportunidade de eternizarmos cada segundo se quiséssemos porém, temos o livre arbítrio de escolher, partipar, estar presente ou não destes momentos. Quem já teve saudade, daquelas boas mesmo, que dói no peito, aperta, espreme e amarga alma, um pedaço longe de você se for saudade de amor, à também aquela passagem pela sala e os portas retratos falam conosco através de momentos únicos eternizados, até por aqueles que já se foram, partiram e deixaram… adivinha! Saudades.
Não há como fugir, buscamos o tempo todo resgatar nossos melhores momentos, lembra-se disso? E daquilo? Sempre assim. Sem querer, deixamos diversos momentos nossos tornarem histórias e belas histórias, se vivermos tão bem o presente, aproveitamos de forma tão íntegra, participamos da vida acolhedora. Ah! como gostaria que aqueles momentos não se acabassem ou que pudesse por magia voltar ao tempo por apenas cinco minutos revivê-los.
A noite cai a dentro e nem chegara na metade do pote, inúmeras recordações ainda assim dentro dessa maquina misteriosa que é o coração. A lua brilhante, o céu límpido lhe faz o convite de servir-se com uma generosa taça de vinho, aquele que comprara antes dela partir para as estrelas, já faz tanto tempo. O frescor lembra a presença, a cor avermelhada pura e magnifica lembra-te dos seus suaves lábios.
Uma longa noite vem pela frente, mais uma sem ela! Pois bem se sabe, para estar perto não é preciso estar junto, mas dentro deste coração carregado de boas lembranças, a que mais gosto era da sua simples companhia. Ainda bem que vivemos tão bem nossa história, pensa o velho entre um gole e outro do vinho, pois hoje sobraram apenas saudades e neste inverno irá se aquecer revirando e lendo cada rótulo de seus momentos juntos!
Apanha a caneta tremula por causa do choro silencioso da alma e escreve ali no cantinho meio que borrado devido aos olhos encharcados atrapalhando ver-lhe a ponta da caneta, mas mesmo assim registra este momento especial de lembrar dela justo no seu aniversário: “Saudade é amor que nunca acaba, Junho de 2015″.
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