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A internet não perdoa
Caso do Catraca Livre mostra como perder credibilidade e ficar marcado, em poucos minutos, pro resto da vida

O episódio trágico que acometeu os jogadores da Chapecoense, jornalistas e tripulação do avião que ia para Colômbia repercutiu com toda tristeza, choque e inconformidade que a situação obviamente exigira de resposta. Como se sabe, a internet já há tempos é o canal de escape e de discussão da grande maioria.

Nesses momentos, não há como fugir do óbvio, que é o sentimento de compaixão pelo próximo.

Infelizmente, parece que alguns não souberam, se não achavam o acidente nada demais, ficar calados e manter a compostura. O site Catraca Livre foi a “Bola da Vez”. Quase instantaneamente, publicou sobre o acidente, mas não contente com noticiar o acidente, colocou as seguintes publicações:

  • “10 fotos de pessoas em seu último dia de vida” (com a primeira foto de jogadores da Chapecoense)
  • “Medo de voar? , saiba lidar com isso!”
  • “Passageiros filmam pânico no avião” (imagens filmadas mostram a reação de passageiros num acidente de avião)
  • “10 mitos sobre viajar de avião”

O que pensar?

Bom, a internet, ou pelo menos 600 mil pessoas reagiram de maneira tão veemente quanto as publicações do site. Simplesmente “discurtiram” a página, além claro de todos os comentários de repúdio (alguns deselegantes, outros só desmascarando). A partir daí, tudo entrou numa espiral de burrice absolutamente incontida do responsável pela página ou melhor dizendo pelo site. Em primeira instância, tentaram consertar se eximindo de culpa, depois de criticado, implicou que não estava se eximindo de culpa. Acabou pedindo desculpas quase implorando. Visto que não surtia efeito, se fizeram de vítima da situação, implicando que os internautas estavam sendo preconceituosos, ou seja, que o que o Catraca defende, suas posições políticas e sociais eram o motivo do ataque das pessoas. Piorou de vez. Se tem algo que o brasileiro está de saco cheio de ouvir, é sobre discurso social, com viés político.

No meio disso tudo Ponto Frio fez piadinha com o fato colocando uma catraca à venda com desconto com citação clara ao fato. Logo depois apagou. E a Net Shoes aumentou o preço da camisa da Chape, causando revolta dos internautas.

Por fim a nota do dono do site:

“A responsabilidade pelo erro em relação às reportagens sobre o Chapecoense tem um nome e sobrenome: Gilberto Dimenstein, criador do Catraca Livre.

Ninguém participou da decisão, exceto eu. Ganhei muitos prêmios como escritor e jornalista – e aprendi que pior do que errar é não reconhecer o erro. Aliás, toda a redação foi contra e, numa conversa franca, expuseram suas discordâncias. Aprendi que errar é uma fonte de aprendizado enorme.

Portanto, peço desculpas se as reportagens feriram as pessoas. E se tiverem que culpar alguém, apontem apenas para mim.

Espero, assim, ser melhor do que fui.”

O que pensar de tudo e da nota do dono do site?

Primeiro sobre a nota. Outra nota que de certa forma é mal escrita e mostra várias nuances do ocorrido. Primeiro, a humildade está logo ao lado da pompa…”Ganhei muitos prêmios como escritor e jornalista – e aprendi que pior do que errar é não reconhecer o erro”…Depois não pede desculpas diretamente usando o “se” feriram as pessoas. Se? Jura? Realmente existe uma desconexão com a realidade que poucos não conseguem ver. A conseqüência da nota: o dono assumiu pra ele a raiva e descontentamento dos leitores. Numa empresa grande, ele seria obrigado a dissociar sua imagem da empresa, renunciando ao cargo e tendo apenas cargo simbólico dentro de sua própria em presa, já que o usuário vai agora definitivamente associar o site ao dono. Isso é irreversível.

Quanto ao ocorrido, primeiro o site foi infeliz e mostrou uma vertente absolutamente repreensível: tentar ganhar dinheiro e ibope com um desastre, sem qualquer respeito pelos que morreram. Segundo, deveria ter pedido desculpas e ter ficado quieto. E parar de postar durante o dia todo. Entender que quanto mais falava num momento de dor, mais odiado seria pela lembrança recente do acidente. Calava-se e assim mostrava o respeito pelo momento.

E por fim. O jornalista com tantos prêmios não soube realmente como agir, do começo ao fim. Dissociado da realidade ou mesmo apoiado em seus prêmios, esqueceu que o ser humano ainda pensa por si mesmo. Não cabe aqui julgar se ele faria diferente se o avião estivesse cheio de feministas ou qualquer outro grupo que ele simpatiza como muitos falaram na internet. Mesmo porque se isso for verdade, todos os prêmios apenas o teriam tornado num idiota completo. O que esperamos, ele não seja.