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Jô: a hipocrisia que é cara do Brasil
Atacante Jô mostra que a honestidade é boa quando beneficia a si. Quando não, a história muda de conversa.

Em meados de abril acontecia a semifinal do Paulistão, São Paulo e Corinthians decidiriam a vaga para a final do campeonato. Primeiro jogo no Morumbi, segundo em Itaquera. O jogo na casa tricolor foi vencido por 2 a 0 pelos visitantes, mas o que mais se falou no pós jogo foi sobre uma atitude de fair play do zagueiro Rodrigo Caio. 

Em lance disputado entre Jô, Rodrigo Caio e o goleiro são paulino Renan Ribeiro, o arbitro pegou um pisão no goleiro e optou por punir Jô com um cartão amarelo. Sorte para o São Paulo, que via o centroavante em grande fase e pendurado do adversário ser advertido e ficar fora da próxima partida. Mas a consciência de Rodrigo Caio pesou e o mesmo preferiu avisar o arbitro que ele que tinha atingido o goleiro acidentalmente. Se dentro do vestiário a atitude não pegou muito bem, fora dele Rodrigo virou rei. A mídia adorou sua atitude, técnicos e jogadores exaltaram o jogador. Tite, técnico da seleção, convoca o zagueiro frequentemente mesmo apresentado um futebol medíocre.  Mas o principal, Rodrigo foi exaltado pelo jogadores corintianos.

                                            

Jô foi convidado para programas esportivos, dava inúmeras entrevistas agradecendo o zagueiro tricolor. Em um desses programas, o Bem Amigos da Sportv, Jô era um dos convidados, ao lado de Dudu do Palmeiras. O último encontro entre eles havia sido na derrota do Palmeiras em Itaquera, onde Gabriel foi expulso após o arbitro confundi-lo com Maycon, os jogadores de verde não avisaram o arbitro do seu erro, ao contrario, incentivaram o mesmo a expulsar erroneamente Gabriel. Jô aproveitou a presença do palmeirense e criticou a postura do time todo, alegando que deveriam ter feito como Rodrigo Caio. 

Vejam só, cinco meses depois…

Corinthians x Vasco, Arena Corinthians. Gol do Jô, com o braço. Depois de tanto defender o fair play, todos esperavam a mesma atitude do atacante, que não veio. Jô fez o gol com a mão e saiu pro abraço. Questionado pelos jornalistas, Jô alegou que não sabe onde a bola bateu. E comprovou que a atitude de Rodrigo Caio só prejudica o honesto. 

“Eu não vi. Se eu tivesse convicção, eu ia falar. Me joguei na bola e não vi se tocou ou não. Se tivesse tocado, eu ia falar. Mas eu me joguei, eu me projeto na bola. E se tocou ou não, é interpretação do árbitro”, Jô em constrangedora entrevista pós jogo.

Jô é a cara desse Brasil. Aonde vemos CPIs sendo formadas com segundas intenções, políticos criticando outros e aparecendo momentos depois em manchetes policiais.

O problema maior de Jô não foi ter feito um gol de mão. Até Maradona já fez. Nenhum jogador teria dito ao árbitro: “juizão, fiz esse gol com a mão.”

O grande problema foi toda hipocrisia anterior a esse gol e a vexatória entrevista (corroborada por uma pergunta estúpida do repórter) na qual o atacante diz não saber aonde bateu a bola. Pela lógica Jô só saberia se a bola tivesse batido em suas partes baixas. 

Jô deixa claro que quer honestidade dos outros. Mas que quando a dúvida o beneficia, dirá que a dúvida foi o grande mote da questão. Ele até agora não sabe aonde bateu a bola. E nós, somos verdadeiros idiotas que ouvimos uma entrevista constrangedora depois do jogo.

Pra piorar, torcedores confundem a crítica com outros momentos aonde o Corinthians foi prejudicado. E acham que isso compensa o outro erro. Ledo engano. Apenas outro problema e uma bola de neve que nunca vai parar.

Jô demonstrou o óbvio que todos já sabem: o Brasil é país dos espertos. Trouxa é quem é honesto. Além da consciência tranquila, nada mais se consegue. 

O episódio mostra que já passou da hora da tecnologia entrar no futebol. Contra os “espertos” a tecnologia providencia o remédio. Neste caso seria gol anulado e cartão para o jogador. 

Bom jogador e medíocre brasileiro.