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Breaking Time
Afinal, o que tanto me incomoda nos filmes e séries de hoje?

Sabe uma coisa que não comentei ainda? Breaking Bad! Sim, afinal a série terminou, todo mundo falou, fiquei imerso nas opiniões e remoendo tudo o que havia assistido. No final das contas empurrei com a barriga o dia em que escreveria, com calma, um texto decente sobre a série.

Não que eu vá fazer isso hoje, porém quero comentar sobre como foi minha experiência com Breaking Bad, sem spoilers, para quem quer assistir.

Sinceramente não lembro quando decidi começar a acompanhar a vida de Walter White. Certamente não foi em 2008, quando a série iniciou sua exibição na AMC. Nesse ano eu mal sabia o que era acompanhar uma série. Sim, sou daqueles que entrou no hype por culpa de estar nas temporadas finais. Isso não é ruim, afinal assisti e me diverti. Mas o começo…

Não que seja ruim, já vi piores, porém os primeiros episódios de Breaking Bad não me chamaram tanta atenção. Isso porque não achei as motivações do Mr. White boas o suficiente para o que acontece logo no início. É, eu sei, “mas Wyll, o homem tá com um pé na cova e com o outro na lama, segurando a família nas costas.” Mesmo assim, achei o começo meio forçado, acredito que minha visão sobre o seriado era mais ou menos o que a HBO disse a Vince Gilligan quando o autor apresentou a ideia à emissora. “Essa é a pior ideia para um seriado que eu já vi.”

Assisti o piloto e metade do segundo episódio até enjoar e encostei. Só dei uma segunda chance porque estava acompanhado de alguns amigos, caso contrário, não teria acompanhado. Assim como Doctor Who, a primeira temporada de Breaking Bad não me cativou o suficiente, mas a partir do ponto que você cria um laço com os personagens, continuar acompanhando suas vidas naquele universo é quase que uma obrigação. Nesse caso, acredito que a temporada que nos introduz à situação de Walter White não é, para mim, uma boa temporada, porém torna-se muito eficiente, a medida que você é cativado pelos personagens.

Com o decorrer dos episódios, temporadas e chegando ao fim, posso afirmar que a série é muito boa e competente, trazendo situações dramáticas dignas de uma reação do tipo: “C*RALHOOOOOOO! NÃÃÃÃO!! C*RALHOOOOO!!!” E assim por diante. A coisa vai ficando interessante, vai se construindo aos poucos e se tornando algo grandioso. Assim como o próprio George Martin disse no tuíter, “não existe ninguém em Westeros tão mau quanto Walter White” ou qualquer coisa nesse sentido. Ok, então.

Se você está interessado em assistir, mas com medo de um final à moda Lost. Relaxa, não é nada absurdo, é até bem previsível, mas muito honesto. Nada que atrapalhe o seu gosto pela série. Vale cada minuto que você parar para assistir, por se tratar daquele tipo de série bem trabalhada, onde nada é por acaso.

O que me leva a uma reflexão um tanto geral a respeito das mídias de entretenimento nos dias de hoje. Veja o caso de Breaking Bad, é uma série muito bem moldada, onde cada pecinha é colocada cuidadosamente no seu devido tempo. Isso! Tempo é a palavra que melhor define o que eu quero dizer aqui.

Veja bem, quando assistimos um filme, ou mesmo um seriado, ou quem sabe até em músicas, são raros os casos em que o criador deixa que sua cria respire. Como assim? Em Breaking Bad, cada situação está ali para que algo relacionado ocorra futuramente, assim como em várias outras séries. Mas os produtores não jogam todas as informações de uma vez em cima de uma bandeja de prata na sua cara. Eles distribuem esses acontecimentos de forma que ocorram intercalados, traçando assim a linha de vida daqueles personagens de forma inteligente e intrigante.

Tempo.

Assim como no cinema, os últimos cinco filmes recentes que vi têm tanta informação comprimida em duas horas de exibição que quase confunde o espectador. Os produtores, nesse caso, querem agradar a todos enfiando tudo o que podem num curto espaço de tempo, sem que sua obra respire, o filme se torna chato. Esse é o caso de Vingadores, O Homem de Aço e demais blockbusters.

Assistindo a filmes mais antiguinhos, dos anos 80 ou 90 já basta, você perceberá que os roteiros, as histórias de base são ridiculamente simples, num bom sentido. Essa simplicidade deixa que a história consiga fluir melhor, dá tempo ao diretor trabalhar bem ângulos de câmera, enquadramentos, iluminação e todos os demais efeitos que tornam os filmes “antigos” tão bons mesmo com as limitações técnicas de suas respectivas épocas.

Na música é o mesmo, muitos querem enfiar tanta informação por meio de notas musicais que acabam exagerando e deixando tudo uma bagunça, ou algo completamente sem sentido. Eu gosto de “degustar” a música e são poucos músicos que fazem isso bem feito hoje. O último álbum que ouvi e que é bem trabalhado, dando tempo à sua criação, deixando que as notas musicais respirem e fluam, foi o do Daft Punk, Random Access Memories. Assim como em tantas músicas dos anos 50, 60, 70, 80, onde os músicos (até então profissionais de verdade) deixavam que o som fluísse por meio de um solo de qualquer instrumento, por meio de uma bela melodia, dando tempo ao tempo da música.

Não sei, posso estar enlouquecendo, mas acredito que é isso que deixa o que é mais velho tão bom. E você, acha que pirei? Comenta aí.