A base da rede social de um usuário são seus contatos. O quanto ele os expande depende exclusivamente de sua vontade. Numa vida normal, de um ser humano dotado de valores, que tem opiniões e pilares bem fincados ( sejam eles moralmente louváveis ou questionáveis) acredito ser possível amealhar uma dezena de amigos. Ao longo de toda a vida. Se muito, quem sabe, duas dezenas, se for extremamente sortudo.
Mas as redes sociais trouxeram uma nova onda. Na qual todos se falam. Aonde existe acesso a praticamente toda e qualquer pessoa na face da Terra. E no caso do Facebook, um termo particularmente é fruto de deturpação. O termo “amigo”.
Tive Facebook durante alguns meses. Nem criado por mim foi.
Sempre achei curioso ter 1000 amigos. Das duas uma, ou é político, ou jogador de futebol. Senão, sobra uma terceira opção: é hipócrita.
É absolutamente impossível ter essa quantidade de amigos. Essa nova era das redes sociais foi criada pra fazer as pessoas viverem uma mentira. E o pior, geralmente gostam dessa mentira. Nela, muitas vidas tem mais sentido.
Nela, você reencontra um amigo de infância. Acha o máximo. Faz contato. Se tornam amigos virtuais. Não sabe nem faz ideia do que se tornou essa pessoa que conheceu um dia nessa mesma infância. Claro, fica sabendo sua função social no mundo. Pai, empresário, vendedor e outras coisas mais. Não sabe se virou um pedófilo, um cara que bate na mulher ou mesmo um corrupto. Mas vá lá, você está numa rede social, tudo é bacana. Tudo que é visto é do bom e do melhor. Todo mundo é feliz. Todo mundo é correto. Todo mundo é honesto. E luta por um mundo melhor. Jamais engana alguém.
Sim, todo mundo:

• Aquele cara que no bar usa termos racistas pra descrever um jogador de futebol, no Facebook é um cara trabalhador, honesto.
• Aquele casal que faz juras de amor a cada dois minutos. E não podem viver um sem o outro. E claro sem os respectivos amantes. Que dando risada também leem os apaixonados.
• Aquele fotógrafo, que faz um trabalho porco, mas como seu cliente não entende patavinas de fotografia, jamais saberá que até fotos no Facebook do fotógrafo nem dele são.

O Facebook faz você acabar tendo contato com pessoas que nem você quer.
E aquela sensação de desconforto bate a porta várias vezes. Declarações desconcertantes de quem que se sente ao léu chorando por atenção. Num dia diz: “cansei, todos são hipócritas aqui! Vou apagar meu Facebook amanhã. Agradeço a todos. Que tenham uma boa vida.” Passa-se o dia. 

Dia seguinte?

O mesmo dá bom dia a todos depois de um papelão como se ontem seu computador tivesse sido hackeado. O calor do momento passou, mas sua dependência virtual ainda não.
O Facebook me faz acreditar que o filme ” The Congress” ( O Congresso futurista, 2013) é uma realidade que ainda acontecerá. Todos chapados num mundo virtual, aonde tudo é uma festa, pois o mundo real parou, todos estão absortos por “eus” virtuais.
No final de contas, é possível entender que uma rede social de amigos tem zero a ver com uma turma de amigos.
O Facebook é a distância perfeita pras pessoas colocarem entre elas e as pessoas que na verdade não gostam. Mas que são obrigadas a conviver de algum jeito.
Tive Facebook um dia. Tinha um monte de amigos. Nos dias finais da vida de meu Facebook, tinha no meu feed de notícias 3 ou 4 pessoas da quais queria saber mesmo. Mas aí pensei, se já as vejo quase sempre e quero estar o mais perto delas possível, pra que vê -las por um computador?
Obviamente, isso sou só eu. Pois nunca fui afeito de ter 1000 amigos. Jamais poderia dar a atenção ou ajuda necessária a todos eles, caso um dia precisassem. Mas claro, essa concepção de amigo estar lá na hora que realmente alguém precisa, é minha. E pra amigos virtuais talvez antiquada.

Tive Facebook um dia. Não tenho mais.