Sentou-se no chão, bem ali. Encostada na parede. Sentia-se meio seca. Suas causas já não faziam tanto sentido. Já não sentia falta dos amigos. O seu amor já era.
Nunca fora, na verdade, amor. Nunca soube o que é amor, os seus pais não lhe ensinaram.
E a sua pele morena lhe dava raiva. Tudo lhe dava raiva. Não, não. Estava seca. Não sentia raiva. Sentia… nada.
Mas tinha desejos. Desejava sentir-se melhor. Não estava bem. Estava a uma distância significativa do ‘bem’.
Entretanto, contam as lendas que o amor é bom. Queria ser amada.
Ficou ali, em seu cantinho. Uma coisa pequena, encolhida. Na verdade, não estava seca, estava ferida. Ferida por dentro, por isso não o sabia.
Pedia que alguém a amasse. Pedia socorro, mas ninguém aparecia. As pessoas, na verdade, nem a olhavam. Ficou lá. Sozinha.
Desejou ser outra coisa. Desejou ser branca, ser homem, ser hétero. Talvez a amassem assim.
Tadinha.
Ela não imaginava e ninguém lhe falaria. Na verdade, o amor vem de dentro. A cura.
E por isso sofria.
Quando vem de dentro não tem jeito. O jeito é se curar. O jeito é se amar.
Ninguém lhe falou.
O seu pai não falou. A mãe não sabia.
Doeu mais.
Ninguém a amou.
Ficou ali. Sozinha.
Abgayl Cardoso