Ao olhar uma foto (ao lado) que foi mostrada na classe, uma aluna (Bela) de uma nova classe de aula deu
um start numa discussão interessante e mais do que antiga. A ética ao fotografar. O que pode ser fotografado sem maiores temores, o que deve ser considerado anti-ético? em que extensão? Por quê?
Ética é algo, obviamente, não tão delimitado aqui. Não existe uma linha clara que coloque uma barreira no que deve ou não ser fotografado. Na minha mente, o uso da imagem é muito mais relevante do que tirar ou não a foto. Tirar uma foto é nada mais do que registrar um momento. Ele estará lá, terá acontecido independentemente de sua foto ou não. Sendo público, não há porque não registrá-lo. Mesmo porque, pensemos: não tirar uma foto vai ajudar a mudar uma situação que é desagradável? uma realidade ultrajante? (seja a fome na África, trabalho infantil e por aí vai)
A foto “Napalm girl” me vem a mente. Não vejo, em minha mente, foto mais depreciativa e mais chocante que esta ( foto da chamada da publicação). A criança, uma garota de 9 anos, correndo nua pelas ruas fugindo de um ataque de Napalm em seu vilarejo. No Vietnam. O horror da guerra foi descrito em uma imagem, ganhadora do prêmio Pulitzer . A garota, viva até hoje, passou por muita coisa pra conseguir transmutar tal realidade. Dor física e emocional, sensação de estar oprimida. Hoje é Embaixadora da Boa Vontade da Unesco pela Paz. O ocorrido poderia não ter sido registrado. Mudaria sua situação? Não. Sua infelicidade era com a situação. E mais, a foto ajudou a acabar com a guerra. Algo muito maior que tudo. Muito mais importante.
A ética está dentro do fotógrafo, que sai pra fotografar com um intuito em mente. Registrar situações desconfortáveis é trabalho de qualquer fotógrafo. Se aproveitar disso, com apelo emocional exagerado ou fazendo muito dinheiro ao fotografar tal tema é uma coisa totalmente diferente. Isso sim é anti-ético.
O trabalho de um fotógrafo é fotografar. Não é fazer demagogia. Se se sente mal com o mundo, deve ajudar a mudá-lo. Ajudar instituições, ajudar ONGs que realmente levam um mundo melhor às pessoas. E principalmente, mudar a si mesmo. Qualquer mudança em seu mundo externo só é possível após uma profunda mudança interna ocorrer. Pra isso ocorrer, é preciso ser corajoso e reconhecer suas falhas, seus temores e suas incapacidades. A partir daí a realidade que tanto o incomoda pode um dia mudar também.