Uma foto, duas vidas.
A foto acima fala muito mais que milhões de palavras. Não há dúvida. Como dizia um professor que tive, uma foto deve falar pense nisso, e não olha isso.
Um fotógrafo que voltava pra a edição todo ida ou noite e sempre reclamava com sua chefe que o mundo era uma merda. Sim, que todos seres humanos eram lixo e que convivia diariamente com o pior que o ser humano pode apresentar. E o pior está longe de ser algo aceitável por qualquer um. E mais, bebia bastante pra ter que conviver com essa realidade que o assombrava a cada click de seu disparador. O costume em viver com o horror nos tira a capacidade de se posicionar contra o errado, muitas vezes.
Kevin Carter, não era uma pessoa que se via alheio a tudo aquilo. E justamente a ele se apresentou a cena da criança prestes a morrer com um urubu à espreita. Foto de grande impacto, dificilmente a se deixar passar por qualquer fotógrafo com um pouco de visão. Foto feita. Como diz Flavio Damm, “fotógrafo não faz demagogia, fotografo faz fotografia”. Certo? Depende.
Do que?
Do quanto você realmente se segura após o click. De quanto você vai aguentar as perguntas que virão. A foto ganhou o prêmio Pulitzer,justamente, e na recepção do prêmio gerou discussões e perguntas para as quais Carter não estava preparado e sendo sensível como era perante tudo que via, se desestruturou mais ainda.A ponto de depois ter se matado. Algo que muito provavelmente aconteceu de forma natural com a criança.
Fica pergunta, era o papel de Carter ajudar ou não a criança? Se ajudasse e tirasse o urubu de lá, ficaria com a consciência limpa? E de verdade impediria algo trágico? Impossível saber. Não sabemos nem se ele de repente ajudou de certa forma, mas sabemos que foi criticado. E que ainda hoje em dia ninguém se importa com a África. Simples assim. Mesmo com essa foto com papel decisivo em mostrar os horrores para o mundo.
Uma foto que custou muito provavelmente duas vidas. Uma que era previsível (infelizmente), outra antecipada.