Muito provavelmente considerada a Monalisa da fotografia, a foto da menina afegã Sharbat Gula é um grande exemplo em todos os sentidos sobre a fotografia e sobre o mundo da mesma. A história da menina diz bastante sobre o que é cobrir um acontecimento no mundo moderno, cheio de guerras entre outras calamidades que assolam o ser humano. Um trecho da matéria da matéria de Cathy Newman explica um pouco do momento em si:
“Ela se lembra do momento. O fotógrafo tirou a foto dela. Ela se lembra de sua raiva. O homem era um estranho. Ela nunca tinha sido fotografada antes. Até que eles se encontraram novamente 17 anos mais tarde e ela não havia sido fotografada desde então.
O fotógrafo lembra o momento também. A luz era suave. O campo de refugiados no Paquistão era um mar de tendas. Dentro da tenda da escola, a notou primeiro. Sentindo sua timidez, ele se aproximou dela por último. Ela disse que ele poderia tirar a foto dela. “Eu não achei que a fotografia da menina seria diferente de qualquer outra que eu tirei naquele dia”, lembrando daquela manhã em 1984 em que passou documentando o calvário dos refugiados do Afeganistão.
Na entrevista no MIS (em que estive na platéia e já mencionei aqui no blog) Steve disse que sentiu ao entrar na tenda, que a menina via ele mais de longe e com um ar desconfiado e tímido, ficou meio que atrás de outras crianças. Nesse ínterim, Steve foi fotografando outra garota, até que a garota veio de trás das outras e ele se aproximou. O resto da história está aí em cima.
Uma foto que entraria pra posteridade e que tem duas lições claras para os fotógrafos de hoje em dia.
A primeira: pros fotógrafos que adoram fotografar os outros em momentos naturais: não adianta se esconder para fazer esse tipo de foto. Pelo contrário, você deve é se fazer presente no cenário e conversar com as pessoas pra saber se existe ou não a possibilidade de fotografá-las. Se permitirem, mais cedo ou mais tarde as pessoas não se importam mais com sua presença e agem como você não estivesse lá.
A segunda: é impressionante como o mundo da fotografia está fugaz. Quase 100% dos alunos que dou aula conhecem a foto da menina afegã. E praticamente todos não tem ideia de quem é o fotógrafo. Na ânsia de tirar uma ótima foto, a maioria não entende que mesmo fotos como essa são feitas com uma grande preparação, pois o estilo do fotógrafo está patente em todo seu trabalho. Basta ir ao site do mesmo pra ver que muitos dos seus retratos tem este estilo em comum, cores, olhar e enquadramento. É sua marca pessoal. Hoje em dia ninguém tem o trabalho de ver a obra de um fotógrafo, algo fundamental pra quem quer ser um. É impossível se tornar grande sem conhecer as obra dos grandes.
Sobre a foto e especialmente as duas vistas juntas, podemos ver como o texto acima de Cathy Newman diz muito sobre a retratada. Quando nova, seus olhos tem uma profundidade (curiosidade?) impressionante. Se estava com raiva como disse, na foto isso se transformou em uma força tão expressiva que não existe como não ficar impressionado e boquiaberto. Juntando à cor e a suave luz, a foto ficou perfeita. Já a segunda foto vemos como a força e o olhar forte se tornaram uma desconfiança e desgaste natural (e não) do tempo. E as cores, claro, morreram e se esvaíram tanto quanto a força da expressão e olhar daquela menina na tenda de refugiados. Juntas, mostram, ou pelo menos sugestionam, que a vida da mesma (em 17 anos) não deve ter sido nada fácil.