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Venha e entenda o Feminismo
Experiências e obras para explicar o tema

O Feminismo passou por várias mudanças – atualmente, o significado sumiu no meio das opiniões alheias.

“Teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos”. Essa é a definição do dicionário Houaiss para a palavra feminismo. Mas, se por acaso fizéssemos uma pesquisa ao nosso redor, iríamos ver um pavilhão de significados – infelizmente, a maioria estaria errada. Falar sobre feminismo nos dias atuais tem se tornado “perigoso”. Muitos pontuam sobre essa palavra, porém, cada um com o seu modo de expressão, puxando para o seu lado e escondendo a sujeira.

Nas redes sociais, percebemos que o real sentido deste termo caminha para outros rumos na boca de alguns. “Feminismo foi criado para superar os homens” ou “Isso tudo é frescura, elas querem aparecer”. Entretanto, na maioria das vezes, esses comentários aparecem de adolescentes desinformados ou alienados. Graças à internet, temos livre acesso a diversos conteúdos acerca sobre este tema.

De algum modo, é necessário esclarecer o que é de fato feminismo – já que textos grandes não estão adiantando, reunimos vivências, alguns livros e filmes. Para isso, conversamos com algumas mulheres – todas contaram suas experiências e passaram algo envolvendo cultura para clarificar a essência dessa palavra.

Acredito que, depois disso, desaparecerão comentários do tipo “não quero ser feminista, quero a igualdade”

  • EXPERIÊNCIAS:

Começarei falando da Clarice (nome fictício), 19 anos e é uma garota normal. Sofreu abuso no transporte público aos 17 anos de idade. “Neste dia estava calor, decidi ir de saia, ninguém merece sair de calça no calor de 30º graus. Porém o ônibus estava lotado e, um senhor de idade, encostou seu pênis na minha bunda e começou à se mexer. Não pude fazer nada. Nem gritar ou chorar. Fiquei em choque. Quando desci, senti algo escorrendo na minha perna – ele gozou.”

Fernanda, de 21 anos, estuda Direito e participa de movimentos sociais feministas. Conta ela que, aos 15 anos de idade, um rapaz de aproximadamente 30 anos tentou encostar nas suas partes íntimas. “Estava sentada, lendo um livro e apreciando a viagem. De repente, senta um homem do meu lado e me encara da cabeça aos pés. Me assustei. Logo em seguida, chegou perto do meu ouvido e falou que se eu gritasse, me esfaquearia. Ele encostou na minha pernas e apertou – deixando roxa. Isso faz tempo, mas lembro-me como se fosse ontem.”

Cristina é empresaria, tem 30 anos e diz que é feminista desde sempre. Sofreu abuso na Avenida Paulista, quando estava a caminho de uma festa. “Andava tranquilamente com as minhas amigas, estávamos indo para uma festa em um apartamento na Paulista. Chegamos. Desci para fumar e relaxar, meu dia foi horrível. Repentinamente, chega um jovem e me segura por trás. Tenta beijar meu pescoço e disse que vai me levar para cama. Apertou-me muito forte e me machucou. Gritei o mais alto que pude, e ele correu. Tive pesadelos com esse momento.”

Giovanna (nome fictício), 40 anos, trabalha com marketing digital. Passou por uma péssima experiência com o seu ex-namorado. “Isso faz tempo, mas ainda recordo-me. Era a minha primeira vez e queria fazer com quem confiava – e sim, confiava nele. Estávamos à vontade. Quando chegamos na hora H, o ‘amigo’ não entrou. Falei para ele deixar para outro momento, pois o clima tinha se perdido. Meu ex ficou bravo e forçou a entrada do pênis. Só de falar, sinto a dor novamente. No mesmo instante, chorei e gritei. A partir daí, comecei a confiar em poucos homens.”

  • She’s beautiful when she’s angry – “Ela é bonita quando está brava”, que se encontra na Netflix.

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O documentário é balizado por manifestações recentes sobre direitos reprodutivos que se deram em Austin, no Texas, e apesar de situado em um contexto geográfico e histórico específico, é possível encontrar semelhanças entre o desenvolvimento da “segunda onda” do feminismo estadunidense e a recente expansão do movimento no Brasil.

  • Heleith Saffioti – A mulher na sociedade de classes (livro)

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No Brasil, a posição de obra inaugural do debate feminista contemporâneo pode ser atribuída a Heleieth Saffioti. Publicado pela primeira vez em 1969, o livro foi a tese de livre-docência da autora, defendida na Universidade de São Paulo dois anos antes. O referencial marxista orienta a análise do livro, que mostra que parte importante da reflexão feminista no Brasil se organizou no diálogo com a crítica e a ação política de matriz socialista. Embora a própria autora não se visse como feminista no momento em que produziu o estudo, o livro se posiciona dessa perspectiva não apenas por dedicar-se a um dos problemas centrais para o feminismo, que é a divisão sexual do trabalho, mas por colocar em questão a naturalização do papel social convencional das mulheres. É desse prisma que Saffioti analisa o lugar legado à mulher na sociedade, refletindo não apenas sobre as formas e razões da desvalorização do trabalho feminino, mas também sobre temáticas como maternidade, casamento e sexualidade.

  • Patricia Hill Collins – Black feminist thought(livro)

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Collins destaca o potencial das experiências e do pensamento das mulheres negras para a crítica a uma matriz de dominação fundada simultaneamente na raça e no gênero. A abordagem teórica que dela emerge enfoca as conexões entre experiência e consciência, fiel a uma das principais contribuições das abordagens feministas e do feminismo negro especificamente, que é a atenção à experiência vivida das mulheres. Uma epistemologia feminista e antirracista depende, assim, da compreensão dos contextos de produção do conhecimento. Todo conhecimento é situado e o modo que a produção do conhecimento se dá tem efeitos direitos nas vidas das pessoas e nas hierarquias sociais. A tensão entre a vivência concreta dos indivíduos e sua marginalidade na produção do conhecimento é um tema central na sua elaboração – daí a importância da noção de “conhecimento subjugado”, com grande potencial para uma agenda feminista que continue a apostar na articulação entre vivência, produção do conhecimento e luta política.

Feminismo não é uma simples causa. É uma luta por direitos iguais.