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O que leva um a interpelar a outrem por causa de um turbante?
O caso de Thauane Cordeiro no metrô expõe tempos de falta de empatia pelo próximo

O que leva um a interpelar a outrem por causa de um turbante?

Pode-se pensar em mil motivos para tal fato. Como se trata de alguém da Raça Negra que interpelou uma garota branca no metrô, a compreensão ou tentativa dela pelo menos nos faz pensar em mil teorias. O fato que aquela passou por sofrimentos óbvios, foi subjugada, escravizada e até hoje sofre com o racismo ainda patente que se apresenta não só no Brasil mas em vários outros países e talvez no mundo todo vem a tona como obviedade. Em maior ou menor grau.

Mas quando uma mulher questiona outra por causa de turbante, um adereço visual que é descartável, é difícil acreditar que os motivos acima entrem na conta. A própria atitude em si demonstra um orgulho de ter algo próprio, que, na teoria, representa a cultura de um povo. Então o que pensar?

Pra se ter, um pouco, mais fatos válidos na questão, vale olhar a moça em questão. A que sofreu com a pergunta e observações , para alguns válidas e pra outros apenas estúpidas :

“olha lá a branquinha se apropriando dá nossa cultura”, enfim, veio uma falar comigo e dizer que eu não deveria usar turbante porque eu era branca. Tirei o turbante e falei “tá vendo essa careca,… “

Se trata de Thauane Cordeiro. E o episódio foi no metrô de São Paulo. Quando olha-se a foto de Thauane dificilmente vê a raça branca opressora e dominante que ainda subjulga muitos negros. Mesmo sem saber que ela portadora de câncer, fica claro que a aparência é de uma menina nova e simplesmente menina como qualquer outra. Nem um pouco intimidadora.

O que deveria ser um motivo de diálogo sadio e gostoso entre duas mulheres, que sofrem também no Brasil por serem mulheres ( outro tipo de sofrimento claro) virou motivo de discórdia.

É difícil não imaginar que isso só aconteceu porque a garota estava sozinha e tem aparência frágil. E garotas em grupo se sentiram fortes para bater de frente e vir a cobrar algo pra muitos sem sentido.

Se verdade, mostra claramente a fragilidade de garotas que pra sentirem que tem algo próprio e realmente seu precisam se apegar a um turbante. Quando na verdade os negros tem coisas muito mais importantes pelo que batalhar, num mundo ainda racista. Um turbante não faz ninguém negro. Que digam os Sikhs que os usam a séculos. Como a palavra catzo não faz ninguém mais italiano. Já pensaram italianos questionando qualquer um por ter falado a palavra? Aliás, porque não uma italiana de turbante? O célebre fotógrafo Steve Mccurry capturou centenas de pessoas que usavam turbantes, como a italiana abaixo:

O episódio expôs a falta de diálogo e empatia pelo próximo que é corrente nos dias de hoje. A garota com câncer está certíssima em se sentir chateada.

É curioso ver alguém brigar por isso e não estar nem aí pra quantidade de gente mal educada que pega lugar de deficiente e idoso em ônibus. Isso nunca vejo ninguém questionar em SP. Em primeiro lugar estão os grupos. Por último o ser humano.