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A água e a falta

A água está em tudo…você abre a torneira e ela está lá, toma banho e ela está lá, visita alguma cidade com uma queda d’água, um rio, ela está lá…  pedimos água no restaurante, na padaria, lavamos nossa roupa, em banheiros públicos jogamos água no rosto… vemos chafarizes e fontes em cidades, lavamos nossos carros. A água está sempre lá…como um bem inesgotável, um direito… Desde criança aprendemos que podemos viver um certo tempo sem alimento mas um tempo muito menor sem água. Água é vida. Somos o planeta água.

Então, de repente,  ( não de repente, mas como São Paulo é uma cidade narcisista, a gente só acorda quando a água bate na bunda…. ou nesse caso “não bate na bunda ” )  a água acabou. Sim, a água acabou… O que resta dela – represada e tratada para o uso da população está no fim… fim do poço mesmo, literalmente. E agora ?!

São muitos paulistanos se perguntando – e agora ?! E não temos nenhuma grande explicação, nenhum orgão público nos dá uma satisfação, nenhuma chamada com aquela musiquinha que anuncia alguma catástrofe na programação da Rede Globo. Não estamos preparados para nada, não recebemos nenhuma orientação.  Alguns estocam água mineral, outros vão atrás de caixas d’água. E, entre uma desinformação e outra vamos avançando. Isso, levando em conta que quando digo “Nós” me refiro a parte privilegiada da população, aquela das regiões centrais, porque as periféricas já sofrem com a falta de água há meses… 

Pincelo algumas informações na internet. Uma chamada dá conta que um diretor da Sabesp alerta que deveríamos deixar São Paulo, porque não vai ter água. Outra avisa sobre o tal racionamento 5 x 2. Uma terceira matéria questiona : se não há água, não há o que racionar… Bom, nesse caso, tenho que concordar…

Particularmente, na prática, podemos fazer o nosso pouco. E como todo momento de crise traz em si um período de aprendizado e crescimento, é chegada a hora de crescer. Porque independente da incompetência de nossos governantes – e como eles são incompetentes, meu Deus… – há um enorme desperdício no modo como tratamos nosso recursos naturais. E agora é a hora de repensar tudo isso.

Quando tudo existe em abundância pra que se questionar ? Mas, se pararmos pra pensar, não é uma afronta, um luxo usarmos a mesma água que lava nossas mãos, nosso corpo, pra dar a descarga em nossos dejetos ?! E de que adianta rezar pra chover se a cada ano subimos mais e mais concreto na cidade e se o governo segue desmatando a floresta amazônica ? E de que adianta as crianças decorarem a tabela periódica ou aprenderem álgebra se não lhes ensinam a gerir os recursos naturais ?

Me parece que 2015 será um longo ano… o país está do avesso e aqueles que como eu, moram em SP vão enfrentar a crise hídrica ao vivo e a cores. A novidade, para os desavisados, é que muita gente por esse mundão afora enfrenta isso diariamente. A seca não é novidade no nordeste brasileiro e nem em muitos países em que os recursos hídricos são bem mais escassos que aqui…  mas pessoas sobrevivem , se educam e os governos buscam solução.

São Paulo, que é a maior metrópole do país e da América Latina, não poderia passar imune ao seu enorme crescimento e a todos os desafios que crescem junto com ela. Agora é a hora de aprender, de mudar a mentalidade, de buscar alternativas e exigir atitudes de nossos governantes. Podemos nos indignar ao constatar que foram esses governantes que deixaram a situação chegar onde chegou, mas infelizmente isso não vai mudar a situação que temos que enfrentar.

Talvez, e eu espero isso, toda essa crise nos traga a oportunidade de repensar o que de fato importa nessa vida. Afinal, de que adianta morar na maior metrópole do país, ter acesso aos melhores teatros, aos melhores cinemas e exposições, aos melhores shows musicais,a melhor educação, à alta moda e gastronomia, etc… sem água ?!  Veja só a ironia ! E pense se não estamos diante de uma mudança de paradigma… Feito isso, se prepare, porque a próxima parada é… a energia elétrica.