Helena tinha inúmeras rosas no jardim. Estavam sempre abertas como nas fotos das revistas e ela as cortava com uma tesoura pra presentear alguém ou colocar em uma vaso dentro de casa.
As plantas eram sua vocação, assim como costurar, a comida cheirosa e aquele jeito doce de avó. Eu a via como uma daquelas mulheres de um tempo perdido, um tempo que corria devagar e macio, com cheiros e sabores que já não existem mais.
Tinha imigrado de outro continente, tinha vivido no campo, tinha se casado com um homem viúvo e pai de três filhos e com ele gerado mais dois. Não completara o primeiro grau. Não era politizada, nem tinha dotes extraordinários…era simples e suave como uma brisa mansa de outono, como um copo de leite com nescau, uma forma com bolo de pão de ló coberta com um pano de prato. Mãe, esposa, tia, avó… Um alento, um colo onde eu repousava minha cabeça de criança enquanto viajávamos todos no carro de meu pai.
Queria tê-la aproveitado mais, com mais maturidade. Queria ter cuidado mais dela, o tanto que ela cuidou de mim e de todos…Sei que nos reencontraremos um dia…Sei que estamos juntas em outros planos e que meu vínculo com ela é eterno e se fortalece através de sua filha, minha mãe. Em meu coração, todas as rosas são para Helena.