Que eles existem, todos sabemos. Estão à toa, nas praças, ou tomando conta de carros, onde quer que haja necessidade de se estacionar: nas proximidadesnde supermercados, farmácias, laboratórios, igrejas, consultórios e padarias. Outrosnformam casais e passam o dia e a noite vagando; dormem nas calçadas, se banham em banheiros improvisados de garrafas pet, comem sobras que ganham ou compram. Fumam. Fedem. Incomodam. A gente fica pensando o que é feito dos nossos impostos para permitir que isso aconteça. Mas essas pessoas aparentemente não têm nomes, não devem fazer parte das estatísticas oficiais de desemprego. Provavelmente não têm CPF, carteira profissional, título de eleitor, ou comprovante de residência. Não têm dentes, ou perderam muitos deles e não usam escovar os dentes, não penteiam o cabelo, não se incomodam de vestir a mesma roupa por semanas. Lavam seus pratos em qualquer lugar onde haja uma torneira e ninguém por perto. Cruzamos seus caminhos e nos esquecemos deles, porque são invisíveis. Assumem uma forma humana quando estamos próximos e depois de darmos alguns passos, nos esquecemos deles e eles voltam a ser invisíveis. É quase como se não existissem. Quando morrem, imagino que serão enterrados sem identificação. Quando adoecem a ponto de incomodar porque estão atrapalhando o passeio, e são socorridos, são atendidos como indigentes. Eu queria escrever um final para isso, mas não consigo. Não há final para o que não importa. Quem se importa?