Não adianta a gente rebater, fazer o quê. A gente aceita. Seja lá o que for! O que é e o que vier. A gente encara e aceita. A gente luta, cai, levanta e segue em frente. Mas sempre aceita.
Aceita, amores capengas, amantes ausentes, a falta de vontade dos outros, amizades temporais daqueles que só te procuram quando precisa. Coleguismos falsos, mentirosos e tudo mais, a gente acaba aceitando.
O teto cai, as paredes te prendem uma na outra, se falta ar, até água. A grana fica curta e não dá pra fazer aquela tão sonhada viagem, a gente aceita. Vivem nos criticando em todo lugar sobre nossas derrotas, mas esquecem-se dos nossos sucessos, tudo bem. A gente aceita.
Aceita pagar por serviços odiosos quando na verdade devíamos exigir deles a qualidade. Aceita ficar em pé na fila por um atendimento de cara feia, até ser o terceiro lugar em um sorteio qualquer. É melhor que nada. Aceita até opinião de pessoas insuportável só pelo prazer de não estender mais a conversa, assim, amansamos a fera e aceitamos os raciocínios impostos só para não criar conflitos.
Aceita circular de bandeja em mãos pela praça de alimentação lotada a procura de uma mesa vazia, engordurada, ao lado da lixeira entupida de lixos dos outros, mas aceita assim mesmo. A gente cobiça a semana inteira pela chegada da “Sexta-feira, a sua linda!”. O antídoto, analgésico, o nosso calmante contra as chatices e as mesmices da semana.
A gente aceita dividir o nosso maravilhoso final de semana com gentinha mal educada na barraca ao lado da sua, na praia. Aguentamos o casal de namoricos duas poltronas à frente no cinema, enquanto passa a melhor parte do filme, fazer o que! Não estresse. Aceita que é mais fácil.
A gente aceita pagar mais caro por aquilo que naturalmente tem direito pela simples lógica da civilidade e o princípio da sociedade. Um espaço cinco centímetros maior na poltrona do avião, médicos que nos examinem com o mínimo de cuidado, um atendimento decente em qualquer canto.
Querem nos culpar? Então que nos sacrifiquem, pois por mais que nos defendamos, aqueles que nos culpam de qualquer coisa não vão mesmo acreditar. Se o fizessem, assinariam para si mesmos um vergonhoso atestado de covardia.
A gente aceita e se acostuma a viver com o medo, aceita o tempo breve e saudade ligeira, sentimentos burocráticos e cobrança descabidas. Aceita o que deu pra fazer. O mínimo e acha o máximo, aceita o mais provável, menos pior. Simplesmente aceita.
Aceita até mesmo quando rejeita, recusa, esperneia, grita. A gente aceita o inaceitável em conclusão pessoal. Aceita o que foi, o que é e o que vem. Aceita pelo simples medo de ficar só no mar da multidão e não, nós não somos permissivos, acomodados, trouxas, Não.
Nós somos gente. E a gente aceita mesmo! E você aceita sempre?
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