Fotografar é um exercício. Pode ser estético. Pode vir da alma (me refiro aqui a identidade de cada ser humano, não de espírito). O que vem da alma é original, e bonito ou feio, provém de alguma realidade interessante, pois é única.
O que é meramente estético, que é pensado como fim e não como meio (de expressão), tem o objetivo único de produzir um efeito de êxtase visual. Dificilmente, assim, transcende o tempo. Pois não é uma realidade especial. É produzida, muito provavelmente, sem coração. Algo citado de forma contundente por Sebastião Salgado no filme “O sal da Terra”. Na opinião dele, as pessoas fazem fotos para galerias e não com o coração. A fotografia só tem razão de ser se provoca prazer, furor, satisfação e mais DURANTE a captura. O após é e sempre foi apenas consequência.
Fotografias feitas com fim estético são capazes de criar impacto sim. Mas são tudo menos originais ou únicas. Fotografias com cunho de “arte” de hoje em dia são feitas em pencas e é possível fazê-las facilmente se olharmos com atenção os trabalhos de certos autores. E mais, vemos trabalhos semelhantes e repetitivos nos quais ficou impossível identificar um fotógrafo. É um trabalho para a venda imediata e sem nenhuma identidade própria.
E como fazer algo mais profundo? é preciso passar a superfície. Ambas. Primeiramente a superfície do seu próprio ser, entendendo seus medos, desejos, vícios, desequilíbrios e tudo mais que faz você ter sua identidade. Ela é muito mais do que o que os outros vêem e mesmo que muitas vezes você conhece. Após isso, é possível enxergar realidades por trás da visão simplificada e imediatamente disponível que se apresenta a todos da mesma forma. A superfície do que está à sua frente esconde outros acontecimentos muito mais interessantes do que o óbvio, como por exemplo um pôr do sol, ou outras cenas ordinárias que no nosso mundo, às vezes medíocre, nada tem de nós refletido no cenário que observamos.
Conseguindo mergulhar e quebrar o óbvio da casca dessa superfície, é possível criar algo único.
Criar é o único sentido da arte. De qualquer espécie. É o prazer e a realização de qualquer artista, sendo inclusive este um fotógrafo.
Criar, é o elo mais forte com um possível Deus, pra aqueles que acreditam que este existe. Se ele existe, a criação é o contato direto com essa força motriz do universo. Alguns o fazem através da arte, outros da geração da vida (como as mulheres), outros plantando árvores e por aí vai. Para o artista, a criação do novo é o seu modo de se conectar com essa provável força existente e que tudo liga e move na Terra.
Quadro Guernica de Picasso no topo.