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Eu e o Ipê amarelo
Esta crônica retrata os reclames de um idoso que sentado em baixo do velho ipê amarelo, observa as mudanças bruscas da sociedade e sonha com os bons costumes que se perderam com o tempo.

No silencio calmante abaixo do velho ipê amarelo na praça que a prefeitura fez em frente de casa o ipê é velho, mas a nova praça o cercou. É o meu canto de reflexão por anos e hoje refletia eu sobre conhecer os semelhantes:

Entre idas e vindas da vizinhança, pareço estar dissimulado no meu canto de reflexão, sou invisível aos olhos dos demais, saudosa época em que um “bom dia” era sinal de respeito, não bastava apenas declamar, mas simbolizar retirando o chapéu em sinal de educação, assim acontecia quando se passava diante os portões dos templos religiosos independente de qual a instrução passada pelo meu pai era: “retire o chapéu e pare de pitar o cachimbo”.

Vendo essa juventude toda passar ai e não são os adolescentes não, mas os pais deles, nariz encostando-se às estrelas e sem um mínimo de consideração com um velho solitário sentado no banco da praça. Às vezes em minha imaginação eu vejo esse bairro todo ai como sendo tudo mato, para qualquer lado que você olhe e tento aos poucos reconstruir na minha imaginação a formação desta cidade, os primeiros sobrados, as primeiras famílias, o primeiro asfalto e a iluminação elétrica das ruas, vejo que passam as primeiras famílias descendo a velha ladeira, porque naquela época todos sorriam? Éramos felizes.

Automóveis? Poucas famílias o possuíam, digamos que só os mais averbados e sinceramente, pouco importava, pois vivíamos felizes construindo nossa família e nosso patrimônio na medida do possível. Tento então imaginar onde foi que a minha sociedade se perdeu? Cadê os bons costumes? Essa geração ai são filhos e até bisnetos dos meus antigos vizinhos, não tenho dúvidas de que seus pais deixaram a mais preciosa das heranças, a boa educação.

Hoje, sou estorvo até para subir à jardineira, minhas pernas cansadas são motivo de piadas e sorrisos da juventude, minha bengala é improvisada no cabo de madeira da velha vassoura de palha que me guia já por 19 anos, madeira mesmo não esse refugo de cabos de vassoura que vendem hoje em dia.

Fecho os olhos e ainda vejo com orgulho que sou o único a varrer as folhas da frente de casa, os demais vizinhos gastam horas empurrando pequenas folhas com a mangueira d´água, e hoje reclamam de falta dela. Talvez essa pressa da nova geração esteja estragando os bons costumes desta juventude (todos mais jovens que eu).

Não sento neste banco para vigiar ninguém, mas me bate uma saudade de ouvir um simples bom dia! Hoje, somos só nós dois: Eu e o velho ipê amarelo, mas orgulhoso por que na minha cuca há cheia de boas lembrança de que um dia já vivi numa sociedade onde não era apenas um velho sentado, mas um jovem sorridente sonhando debaixo deste velho ipê amarelo.